sexta-feira, 29 de dezembro de 2017

A Conversação

Talvez, não caiba dizer que o excelente “A Conversação” seja um filme menor de Francis Ford Coppola, entretanto, quando vemos que ele se situa entre “O Poderoso Chefão-Parte II” e “Apocalypse Now” em sua assombrosa filmografia dos anos 1970, este é o primeiro comentário que ocorre.
Muitos cineastas, normalmente quando envolvidos em projetos de escala épica, têm em geral o hábito de intercalar uma obra menor, de orçamento, prazo de produção e viabilização menor, como forma de restaurar as energias e recobrar o tino narrativo de produções altamente exigentes em termos logísticos –um exemplo disso é a realização de “Psicose”, por Alfred Hitchcock logo na seqüência da superprodução “Intriga Internacional”.
Do modo como se situa na trajetória artística de Coppola, “A Conversação” parece ter exercido esse tipo de papel para ele.
Coppola dá um tempo nas intrigas mafiosas da família Corleone para se focar em outro universo de segredos e meias verdades. Quando o filme começa testemunhamos um diálogo banal entre duas pessoas numa praça bucólica. A captação de som, os ruídos, o murmúrio do ambiente, tudo torna nebuloso o esforço para distinguir o verdadeiro teor da conversa.
Mas, é exatamente esse o ofício de Harry Caul (Gene Hackman, num de seus grandes papéis), um especialista em escutas, realizando mais um de seus trabalhos rotineiros.
Harry é uma versão ultra-realista do que se supõe ser um espião: Vive nas sombras, cercado de aparatos nada vistosos, mas potencialmente defeituosos, sua vida e ele próprio são completamente destituídos de glamour.
Talvez seja essa compreensão e autoconsciência da própria mediocridade que leva sua paranóia a deduzir que, no diálogo que capturou na primeira cena do filme, haja afinal um plano nebuloso para um iminente assassinato.
Ou talvez seja um perigo real e cabe somente a ele impedir que venha a acontecer.
Como no formidável “BlowUp-Depois Daquele Beijo”, de Michelangelo Antonioni –uma inspiração suprema aqui –o áudio em questão serve para que o protagonista realize um escrutínio constante e incessante em busca do que possa ser a verdade, e paradoxalmente com isso, acabar mergulhando na verdade a respeito de si mesmo.

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