Talvez, não caiba dizer que o excelente “A
Conversação” seja um filme menor de Francis Ford Coppola, entretanto, quando
vemos que ele se situa entre “O Poderoso Chefão-Parte II” e “Apocalypse Now” em
sua assombrosa filmografia dos anos 1970, este é o primeiro comentário que
ocorre.
Muitos cineastas, normalmente quando envolvidos
em projetos de escala épica, têm em geral o hábito de intercalar uma obra
menor, de orçamento, prazo de produção e viabilização menor, como forma de
restaurar as energias e recobrar o tino narrativo de produções altamente
exigentes em termos logísticos –um exemplo disso é a realização de “Psicose”,
por Alfred Hitchcock logo na seqüência da superprodução “Intriga
Internacional”.
Do modo como se situa na trajetória artística
de Coppola, “A Conversação” parece ter exercido esse tipo de papel para ele.
Coppola dá um tempo nas intrigas mafiosas da
família Corleone para se focar em outro universo de segredos e meias verdades.
Quando o filme começa testemunhamos um diálogo banal entre duas pessoas numa
praça bucólica. A captação de som, os ruídos, o murmúrio do ambiente, tudo
torna nebuloso o esforço para distinguir o verdadeiro teor da conversa.
Mas, é exatamente esse o ofício de Harry Caul
(Gene Hackman, num de seus grandes papéis), um especialista em escutas,
realizando mais um de seus trabalhos rotineiros.
Harry é uma versão ultra-realista do que se
supõe ser um espião: Vive nas sombras, cercado de aparatos nada vistosos, mas
potencialmente defeituosos, sua vida e ele próprio são completamente
destituídos de glamour.
Talvez seja essa compreensão e autoconsciência
da própria mediocridade que leva sua paranóia a deduzir que, no diálogo que
capturou na primeira cena do filme, haja afinal um plano nebuloso para um
iminente assassinato.
Ou talvez seja um perigo real e cabe somente a
ele impedir que venha a acontecer.
Como no formidável “BlowUp-Depois Daquele Beijo”, de Michelangelo Antonioni –uma inspiração suprema
aqui –o áudio em questão serve para que o protagonista realize um escrutínio
constante e incessante em busca do que possa ser a verdade, e paradoxalmente
com isso, acabar mergulhando na verdade a respeito de si mesmo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário