Gênese para muitos programas de teor bem mais
apelativo que surgiram depois (e que giravam basicamente em torno da ufologia),
o livro de Erich Von Daniken, depois tornado um documentário relativamente
lendário nos anos 1970, utiliza um tom ‘new age’ que conquistou de pronto as
jovens plateias da contracultura da época, colocando a velha questão acerca da
existência ou não de vida inteligente no universo num contexto inédito e
interessante: A partir de pesquisas e informações obtidas com esmero aparente,
o filme dirigido por Harald D. Reinl levanta a instigante teoria de que as
manifestações divinas ocorridas em todo o mundo na Antiguidade, narradas na
forma de mitos e milagres que compõem bases religiosas, seriam visitações de seres
extraterrestres, tomados pela mentalidade da época, como divindades –quando, na
realidade, não passavam de viajantes espaciais, como os próprios seres humanos
tentaram nesse sentido se tornar com a Corrida Espacial nos anos 1960 e 70.
O primeiro esforço na tentativa de corroborar
essa teoria é mostrar tribos nativas das ilhas do sul do Pacífico que, durante
a Segunda Guerra Mundial, entraram pela primeira vez em contato com os homens
civilizados, no caso, soldados que por lá se instalaram com seu maquinário bélico
por razões estrategistas.
Assombrados pela aparição de seres que
desconheciam, munidos de tecnologia superior, os nativos passaram a idolatrar
os soldados enquanto aguardavam seu prometido retorno, recriando com palha,
graveto e madeira ídolos no formato de seus aviões. É uma cena um tanto
interessante, curiosa pelo fato de possuir frágil convicção: Os nativos parecem
mais atores previamente orientados (nota-se sua ingênua intenção de ignorar a
câmera), seus ídolos são construções precárias e abruptas (parecem erguidos há
poucas horas atrás) e seu comportamento exibe dissimulação.
Contudo, o documentário de Reinl vai pouco a
pouco munindo o expectador de mais e mais evidências colhidas em todo o mundo
acerca de sua linha de pensamento, e a despeito de alguns momentos claudicantes
na sua validez (alguns especialistas que comparecem soam canastrões e
exibicionistas), a sucessão dessas informações vai tornando sua tese plausível.
Somos levados a observar diversas passagens da
própria Bíblia, nas quais aparições celestiais podem ser reinterpretadas, da
visão esteticamente religiosa a elas atribuída no relato de suas testemunhas,
para perfeitos casos de contatos imediatos em cujas circunstâncias é chamada a
atenção para detalhes como a destruição de Sodomo e Gomorra (a narração de uma
explosão nuclear) e a descrição dos aspectos desses ‘anjos’ ou ‘santos’ feita
em texto ou mesmo em desenhos (e a ênfase em detalhes que hoje seriam
invariavelmente relacionados aos astronautas, como as auréolas desenhadas ao
redor da cabeça que representariam capacetes espaciais).
A narrativa prossegue saltando para diversas
partes do mundo –as espetaculares pirâmides do Egito; as construções
preservadas do Império Asteca na América do Sul, as estátuas engimáticas na
Ilha de Páscoa –flagrando não apenas seus detalhes individuais e
indiscutivelmente impressionantes (como o mistério acerca de como se deu sua
impraticável construção, e outros elementos fascinantes), mas também a surpreendente
similaridade nas muitas características a definir esses cultos ambientados em
locais remotos do planeta uns dos outros –como se, mesmo diante da distância
humanamente intransponível, esses povos tivessem sido visitados pelos mesmos
seres tomados depois por divindades.
Extasiado com a própria condução, o filme perde
a mão nos devaneios visuais quando compromete sua imparcialidade documental ao
exagerar no excesso de contemplação às belas paisagens, intercalando isso aos
momentos mais informativos quando mostra os primeiros mapas descobertos na Antiguidade
(séculos antes de Cristo!) que sugeriam uma elaboração geográfica realizada de
cima (!) e muitos outros fatores curiosos, como as linhas de Nazca feitas a
milhares de anos nas terras da civilização Inca que, vistas de um aeroplano,
revelam desenhos complexos (uma aranha, um pavão, um colibri, uma forma
humana!) que só poderiam ser executados e vistos de uma perspectiva aérea (!).
Tal e qual um diretor de
ficção melodramática, Haraldo Reinl lança mão desavergonhadamente de recursos
narrativos demagógicos, como uma trilha sonora pomposa e envolvente, imagens
sedutoras e inquestionável riqueza documental, para ‘vender seu peixe’, fazendo
com isso uma obra apetecível, instigante e saborosa –na sua resolução final,
entretanto, a narrativa de Reinl cai naquele mesmo impasse de todas as
narrativas, ficcionais ou não, que giram em torno da incerta questão
extraterrestre: A de que, por mais categóricas que sejam suas certezas, elas
sempre vão se descobrir, ao fim, redundantes perante suas dúvidas.
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