Trazido da Austrália, o diretor Russel Mulcahy
emprestou à bela e peculiar aventura escrita por Gregory Widen um senso de
fantasia mirabolante oriundo das histórias em quadrinhos e um frenesi inquieto
extraído dos videoclips. Com efeito, quando foi lançado em 1986, “Highlander-O
Guerreiro Imortal” revelou-se um verdadeiro achado.
Seu início já pega de surpresa o expectador:
Numa câmera nervosa que se arrisca até num audaz travelling por cima de um
estágio de luta livre lotado no Maddison Square Garden, encontramos, em meio à
multidão o protagonista do filme, Connor MacLeod (Christopher Lambert, dando ao
personagem um inesperado adendo de bom humor, diferente dos machões carrancudos
e convencionais dos filmes de ação da época).
Num encontro dentro do estacionamento
subterrâneo, uma luta entre MacLeod e um
adversário se segue envolvendo espadas (!) –e, no desfecho dela, MacLeod
termina podando a cabeça de seu inimigo usando a arma antiga.
Começam então a sucessão de flashbacks que irão
oscilar durante toda a narrativa os quais, no passado, irão esmiuçar com
precisão a origem do protagonista e sua curiosa condição de imortal e, no
presente (isto é, em 1986!), irão acompanhar a relação de MacLeod com a
obstinada legista policial Brenda Wyatt (Roxanne Hart), com quem travará um
romance, e seu iminente e derradeiro encontro com Kruger (Clancy Brown, de “Um Sonho de Liberdade”), seu inimigo mortal.
Nascido no Século XVI, membros dos tantos clãs
guerreiros da Escócia, o jovem Connor MacLeod descobre durante um doloroso e
potencialmente fatal ferimento em campo de batalha que é um imortal –condição
fantástica a ocupar o cerne da mitologia do filme da qual o roteiro
espertamente se recusa a fornecer explicações.
Ao sobreviver, Connor é considerado uma heresia
–o milagre de sua sobrevivência, deduzem os aldeões e seus faniliares, só pode
ser atribuído à demônios –e assim é brutalmente expulso de sua casa.
Com o passar dos anos, ele se refugia junto da
bela camponesa Heather (Beatie Edney) numa isolada e idílica casinha entre as montanhas, nas Highlands (terras
altas) –daí o termo Highlander, que o acompanha.
Logo, porém, MacLeod é visitado pelo espadachim
Juan Sanchez Villa-Lobos Ramirez (Sean Connery, numa participação pomposa e
egocêntrica) que lhe abre os olhos para sua condição imortal e o treina para
uma série de embates que virão nos séculos seguintes: Segundo Ramirez, todos os
imortais do mundo são atraídos para algo denominado Assembléia, embates mortais
travados com espadas (por meio das quais lançam mão da única maneira de
morrerem, separando em definitivo o corpo da cabeça), cujo objetivo é que
reste, dentre todos os imortais, apenas um.
O prêmio para o vitorioso: Ser, enfim, mortal.
Uma dentre tantas obras de
irresistível apelo comercial e imaginativo que o cinema de fantasia entregou na
década de 1980, “Highlander-O Guerreiro Imortal” conquistou seu merecido espaço
na cultura pop por uma série de qualidades impossíveis de serem ignoradas, como
a direção estilosa de Russel Mulcahy, cuja abordagem do universo singular e
mitológico aqui esboçado primava por um misto quase inovador de verossimilhança
factual (guardadas as devidas considerações do gênero fantástico a que
pertence, claro) e visual acachapante, o roteiro inteligente e sensato na união
equilibrada entre ação e pormenores de sua trama e seus personagens e,
sobretudo, a junção desses elementos já admiráveis com a trilha sonora à cargo
do grupo musical “Queen” que, na voz de Freddy Mercury, entregou entre outras a
canção “Who Wants To Live Forever” que sozinha definiu a aura lendária e
dramaticamente incomum que passou a cercar este filme aos olhos de toda uma
geração de fãs e apreciadores.
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