quinta-feira, 30 de julho de 2020

O Jovem Frankenstein

Tendo entregue a quase genial sátira de faroeste “Banzé No Oeste” naquele mesmo ano de 1974, o diretor Mel Brooks concebeu logo em seguida outra genial paródia de mais uma linguagem cinematográfica específica: Mais do que cativar o expectador com suas piadas francamente hilárias, “O Jovem Frankenstein” surpreende pela maneira brilhante com que assimila as reflexões e inflexões do gênero de terror antigo à que pertencem a premissa e os personagens que ele quer parodiar não despido de carinho –os humoristas de hoje se esquecem disso, criando comédia que em seu humor desregrado fazem pouco mais do que ofender.
O personagem de Gene Wilder, Frederick Frankenstein, é neto do célebre Victor Frankenstein –de cuja história o diretor se aproveita do conhecimento subconsciente do público –e esse fato ocasionalmente lhe proporciona a desconfortável curiosidade dos alunos na aula de medicina que ministra –Frederick afirma e reafirma a insensatez nas experiências científicas que fizeram o nome da família infame; e na empolgação de sua defensiva até crava um bisturi no próprio joelho sem querer (!).
Entretanto, o neto irá migrar de uma aversão às descobertas do avô para uma espécie de retomada de suas questionáveis experiências quando descobrir que lhe foi deixado de herança um castelo na Transilvânia. Lá, Frederick conhece os personagens que o conduzirão ao seu propósito: A deliciosa Inga (Tery Gaar), mocinha insinuante da região; o estranho e atrapalhado Igor (Marty Feldman, um achado do próprio Mel Brooks), antigo (e impagável) assistente de seu avô; e a governanta do lugar a soturna e hilariante Frau Blücher (Cloris Leachman, sensacional), cuja pronúncia do nome aterroriza os cavalos de uma carruagem cada vez que é mencionado (e não importa onde esteja!).
De posse de um livro escrito por seu avô, Frederick reacende a chama de inventividade que levou seu parente a criar monstruosidades e, gaiatamente resolve dar continuidade aos seus projetos, criando assim um corpo, feito de partes, o qual irá preencher de vida.
A criatura (vivida com brilho por Peter Boyle, de “Enquanto Você Dormia”) só tem um problema: Dotada de um cérebro anormal graças a uma trapalhada (dentre muitas!) de Igor, a criação do Jovem Frankenstein é agigantada e forte, porém, destrambelhada e ingênua –quando escapa, seu encontro com um cego, por exemplo (vivido por Gene Hackman), só lhe acarreta prejuízos (o cego lhe derruba sopa quente nas pernas, quebra a taça de cerveja que ia beber e ainda acende seu dedo pensado ser um charuto!).
Está certo que o timing cômico e o ritmo do filme decaem um pouco ao adentrar seu terço final, quando ,assolado de súbita e improvável compaixão pela natureza singular e, portanto, solitária da criatura que criou, o Jovem Frankenstein resolve mover esforços para fazê-lo ser aceito pela população –o que não ocorre, rendendo uma reedição das cenas famosas (para não dizer clichês) dos filmes antigos de terror nas quais o monstro é perseguido dos aldeãos de tochas acesas em mãos.
Nesse ponto do filme, esse recurso da trama soa como uma alternativa que reduz sua graça e banaliza sua originalidade, entretanto, até chegar ali, o trabalho de Mel Brooks certamente já conquistou com ampla margem o público com uma primorosa primeira parte, inserindo-se entre as melhores e mais hilárias comédias já realizadas.

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