Anos 1970. Embora poucas de suas produções
fossem realmente capazes de romper o circuito comercial restrito de seu próprio
território, o cinema australiano experimentava uma ebuliente convulsão de
realizações de apelo comercial e culturalmente peculiares.
As obras voltadas mais para o terror logo foram
chamadas de ozploitation, ganhando uma conjugação que as aproximava com outras
vertentes que surgiram em outras partes do mundo, como o exploitation, o
blaxploitation ou o giallo.
Dessa safra, o bucólico e macabro “Um Longo Fim
de Semana”, de Colin Eggleston, traz a honraria de ter sido premiado no
Festival de Cinema Fantástico de Avoriaz em 1978.
Nele, acompanhamos nada mais do que dois
personagens, Peter (John Hargreaves) e Marcia (Briony Behets), num casual
passeio à uma praia deserta num fim de semana. É também um exercício de
sugestão do diretor Eggleston que emprega a narrativa –um tanto lenta e
silenciosa –numa analogia da crise amorosa do casal, a respeito do qual
informações vão surgindo aos poucos na tela: Briony está ressentida, pois Peter
a obrigou a realizar um aborto, e o passeio, sob pretexto de recuperar seu
relacionamento, atende mais às aptidões dele, egoísta e valentão, que às dela,
urbana e doméstica.
Uma vez encontrando, com certa dificuldade o
lugar –indícios que já presumem a complicação deles em achar o caminho de volta
–Peter e Marcia se instalam no lugar com seu desleixo e seu descaso pelo meio
ambiente, largando detritos onde querem, e destruindo fauna e flora; numa cena
em questão, Marcia pergunta a Peter porque ele golpeia uma árvore com um
machado e sua resposta é “Porque não?”.
Tal ato não passará impune. O diretor
Eggleston, apegado aos expedientes do terror, enfatiza nos pequenos detalhes os
rumos obscuros e inevitáveis que tudo terá: Ainda no início, Marcia assiste um
noticiário relatando o ataque de krakatuas a algumas residências australianas,
numa alusão poderosa à “Os Pássaros”, de Hitchcock, e num forte prenúncio do
que virá.
O casal protagonista também não colabora muito:
Exemplos inconsequentes da negligência humana para com a natureza, os dois só
manifestam interesse para com os minimalismos melindrosos da própria relação
(mostrada como defeituosa nas cenas iniciais) e já aparecem atropelando um
canguru (!), jogando bitucas de cigarro nas margens da estrada (que logo
incendeiam a relva) e demonstrando flagrante indiferença para com o lixo que
produzem.
A mensagem acaba sendo clara: Na falta completa
e deliberada de empatia desses desprezíveis personagens principais com o
expectador, o filme de Eggleston tem por premissa dar-lhes o castigo que
merecem. E desde o momento em que chegam à floresta à beira da praia, todos os
elementos da natureza promoverão uma gradativa retaliação contra eles; Peter é
atacado por uma águia, logo depois, por um gambá (!). os atritos com Marcia não
cessam e ela se exaspera com a visão de uma criatura negra nas águas da praia,
com as atitudes pouco cúmplices de Peter e com o fato de sempre querer voltar
para casa –pedido que seu marido encontra pretextos banais para negar.
É curioso que, embora a natureza se volte
claramente contra eles, neste filme um tanto simbólico das intenções de seu
diretor e do cinema característico a que pertence, o derradeiro desfecho é
reservado, para cada um, na forma de tragédias oriundas do próprio mundo
moderno de onde vieram: Para Marcia, parte de um engano do próprio Peter
envolvendo o uso imprudente de um arpão; para Peter, é quando ele encontra,
após tortuosa procura, o rastro de volta para a civilização –a estrada –na qual
tem seu irônico fim.
Amparado numa direção de
fotografia e num desenho de som plenos de qualidade, o diretor Eggleston dá aos
desenlaces mais triviais envolvendo a natureza que os cerca um viés de perigo
iminente e incomum, potencializando o clima tétrico, embora também opte por
dispersar sistematicamente esse efeito tornando o filme excessivamente
contemplativo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário