Certamente não há como negar a fortíssima
influência de “Star Wars” em “O Último Guerreiro das Estrelas”, mas também é
justo apontar esta interessante e envolvente produção de 1984 como uma das mais
honestas e bem realizadas obras referenciais da saga de George Lucas.
Diferente da aventura de Luke Skywalker e cia.
contra o Império, a história de Alex Rogan (Lance Guest) começa –e tem vários
momentos importantes –no planeta Terra. Alex, afinal, mora num trailer com sua
família, em meio a uma comunidade de outros moradores de trailers, entre eles a
jovem namoradinha de Alex, Maggie (Catherine Mary Stewart, de “O Ano do
Cometa”, “Um Morto Muito Louco” e “A Primeira Transa de Jonathan”).
O jovem se ressente da mediocridade do lugar
sentindo que aquilo pode estar destinado a ele, e tenta de todas as formas
escapar; entretanto, tudo conspira para mantê-lo ali: Os esforços de Alex
partir para uma faculdade são volta e meia frustrados, enquanto seus dias se
consomem em serviços para os idosos da vizinhança, e até mesmo Maggie não
deseja partir junto com ele para que sua avó não fique sozinha. Nessa primeira
parte, há um dado bastante expressivo sobre o ímpeto jovem de ascensão em
contraponto às barreiras existenciais erguidas pelo mundo.
No entanto é em direção a uma aventura
deliciosamente escapista que caminha o roteiro escrito por Jonathan Betuel:
Inconformado com os rumos que sua vida parece tomar, Alex desconta sua
indignação no fliperama local –“Starfighter”, um jogo de guerra intergaláctica
–e acaba quebrando o recorde de pontos da máquina.
Mais tarde, para a surpresa de Alex, surge
alguém a sua procura, trata-se de Centauri (o veterano Robert Preston, de
“Victor Ou Victoria”, em seu último trabalho), um sujeito estranho dirigindo um
carro estranhamente futurista –de designer inspirado no carro DeLorean, cujo
“De Volta Para O Futuro” só seria lançado um ano depois! –logo, porém, as
suspeitas se confirmam: O carro é também uma nave espacial, e Centauri, um
alienígena criador do “Starfighter”, jogo que tinha por objetivo encontrar o
mais habilidoso entre os terráqueos –tal e qual a espada “Excalibur” antes
dele, como é mencionado numa cena... –a intenção é recrutar os mais hábeis e
capazes para integrar um grupo de guerreiros das estrelas, destinados a pilotar
um canhão estelar e proteger a fronteira especial contra a chegada de invasores
na forma da temível Armada Kodan, liderada pelo vilão Xur (Norman Snow), um
antagonista claramente plantado para ser melhor explorado em continuações que
nunca vieram.
E, sim, de uma circunstância mundana e terrena,
o filme dirigido por Nick Castle salta –não destituído de certa habilidade e
coerência –para uma aventura de escala planetária!
E tão perspicazes são seus realizadores que até
esse quesito se reflete nas motivações do protagonista e nos desdobramentos da
trama: Sentindo a pressão pesar sobre si, Alex, já na presença de outros
guerreiros estelares, resolve declinar e pede para voltar à Terra e à sua
vidinha insignificante.
Entretanto, as mudanças irreversíveis já estão
em curso. Ao chegar, Alex descobre que uma réplica artificial de si foi deixada
em seu lugar para que sua ausência não despertasse suspeitas (e ao interpretar
tanto Alex quanto sua réplica, o ator Lance Guest demonstra uma bela e
competente atuação), o que não impediu a Armada Kodan de enviar, mesmo assim,
um alienígena à Terra para tentar neutralizá-lo.
Pior: Nesse meio-tempo, um atentado tira a vida
de todos os guerreiros estelares reunidos num hangar prestes a partir em
missão.
Agora, Alex é literalmente o último guerreiro
das estrelas (!) e embora ainda esteja relutante e hesitante, depende dele o
destino do universo e do planeta Terra, visto que, se não forem impedidos de
penetrar a fronteira, Xur e a Armada Kodan mais cedo ou mais tarde chegarão ao
sistema solar.
Dotado de salutar profundidade para com os
dilemas do herói –e para com outros elementos que moldam com relevância sua
jornada –o filme de Nick Castle foi pioneiro no emprego de efeitos visuais
oriundos de gráficos de computador, perceptíveis nos combates espaciais todos
gerados digitalmente; claro que aos expectadores de hoje (bem menos inocentes
que o público que enalteceu este filme nos anos 1980) aconselha-se relevar as
limitações técnicas inerentes ao período do filme.
Embora tenha feito relativo sucesso –ainda mais
expressivo pelo baixo custo de sua produção –“O Último Guerreiro das Estrelas”
não ganhou uma continuação; as razões para isso foram as disputas com diversas
grandes e icônicas produções hollywoodianas que despontaram também naquele
período, o fato do cinema comercial ainda engatinhar na questão do como tratar
suas franquias em potencial e, sobretudo, o próprio roteirista Jonathan Betuel,
detentor dos direitos do filme, e que não os cedeu a ninguém que interessou-se
em dar-lhe continuidade; no mais ele permitiu uma novelização anos depois, um
videogame e –pasmem –um musical off-Broadway.
Entretanto, esse mesmo
excesso de protecionismo e zelo talvez tenha preservado “O Último Guerreiro das
Estrelas” da forma como ele é: Uma aventura cheia de simbolismo e referências à
cultura pop da década de 1980, que pertence exclusivamente àquele período para
o bem e para o mal, e que há de existir na memória afetiva daqueles jovens como
uma das mais divertidas e empolgantes aventuras vivenciadas nas telas daquela
época.
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