quarta-feira, 8 de julho de 2020

O Último Guerreiro das Estrelas

Certamente não há como negar a fortíssima influência de “Star Wars” em “O Último Guerreiro das Estrelas”, mas também é justo apontar esta interessante e envolvente produção de 1984 como uma das mais honestas e bem realizadas obras referenciais da saga de George Lucas.
Diferente da aventura de Luke Skywalker e cia. contra o Império, a história de Alex Rogan (Lance Guest) começa –e tem vários momentos importantes –no planeta Terra. Alex, afinal, mora num trailer com sua família, em meio a uma comunidade de outros moradores de trailers, entre eles a jovem namoradinha de Alex, Maggie (Catherine Mary Stewart, de “O Ano do Cometa”, “Um Morto Muito Louco” e “A Primeira Transa de Jonathan”).
O jovem se ressente da mediocridade do lugar sentindo que aquilo pode estar destinado a ele, e tenta de todas as formas escapar; entretanto, tudo conspira para mantê-lo ali: Os esforços de Alex partir para uma faculdade são volta e meia frustrados, enquanto seus dias se consomem em serviços para os idosos da vizinhança, e até mesmo Maggie não deseja partir junto com ele para que sua avó não fique sozinha. Nessa primeira parte, há um dado bastante expressivo sobre o ímpeto jovem de ascensão em contraponto às barreiras existenciais erguidas pelo mundo.
No entanto é em direção a uma aventura deliciosamente escapista que caminha o roteiro escrito por Jonathan Betuel: Inconformado com os rumos que sua vida parece tomar, Alex desconta sua indignação no fliperama local –“Starfighter”, um jogo de guerra intergaláctica –e acaba quebrando o recorde de pontos da máquina.
Mais tarde, para a surpresa de Alex, surge alguém a sua procura, trata-se de Centauri (o veterano Robert Preston, de “Victor Ou Victoria”, em seu último trabalho), um sujeito estranho dirigindo um carro estranhamente futurista –de designer inspirado no carro DeLorean, cujo “De Volta Para O Futuro” só seria lançado um ano depois! –logo, porém, as suspeitas se confirmam: O carro é também uma nave espacial, e Centauri, um alienígena criador do “Starfighter”, jogo que tinha por objetivo encontrar o mais habilidoso entre os terráqueos –tal e qual a espada “Excalibur” antes dele, como é mencionado numa cena... –a intenção é recrutar os mais hábeis e capazes para integrar um grupo de guerreiros das estrelas, destinados a pilotar um canhão estelar e proteger a fronteira especial contra a chegada de invasores na forma da temível Armada Kodan, liderada pelo vilão Xur (Norman Snow), um antagonista claramente plantado para ser melhor explorado em continuações que nunca vieram.
E, sim, de uma circunstância mundana e terrena, o filme dirigido por Nick Castle salta –não destituído de certa habilidade e coerência –para uma aventura de escala planetária!
E tão perspicazes são seus realizadores que até esse quesito se reflete nas motivações do protagonista e nos desdobramentos da trama: Sentindo a pressão pesar sobre si, Alex, já na presença de outros guerreiros estelares, resolve declinar e pede para voltar à Terra e à sua vidinha insignificante.
Entretanto, as mudanças irreversíveis já estão em curso. Ao chegar, Alex descobre que uma réplica artificial de si foi deixada em seu lugar para que sua ausência não despertasse suspeitas (e ao interpretar tanto Alex quanto sua réplica, o ator Lance Guest demonstra uma bela e competente atuação), o que não impediu a Armada Kodan de enviar, mesmo assim, um alienígena à Terra para tentar neutralizá-lo.
Pior: Nesse meio-tempo, um atentado tira a vida de todos os guerreiros estelares reunidos num hangar prestes a partir em missão.
Agora, Alex é literalmente o último guerreiro das estrelas (!) e embora ainda esteja relutante e hesitante, depende dele o destino do universo e do planeta Terra, visto que, se não forem impedidos de penetrar a fronteira, Xur e a Armada Kodan mais cedo ou mais tarde chegarão ao sistema solar.
Dotado de salutar profundidade para com os dilemas do herói –e para com outros elementos que moldam com relevância sua jornada –o filme de Nick Castle foi pioneiro no emprego de efeitos visuais oriundos de gráficos de computador, perceptíveis nos combates espaciais todos gerados digitalmente; claro que aos expectadores de hoje (bem menos inocentes que o público que enalteceu este filme nos anos 1980) aconselha-se relevar as limitações técnicas inerentes ao período do filme.
Embora tenha feito relativo sucesso –ainda mais expressivo pelo baixo custo de sua produção –“O Último Guerreiro das Estrelas” não ganhou uma continuação; as razões para isso foram as disputas com diversas grandes e icônicas produções hollywoodianas que despontaram também naquele período, o fato do cinema comercial ainda engatinhar na questão do como tratar suas franquias em potencial e, sobretudo, o próprio roteirista Jonathan Betuel, detentor dos direitos do filme, e que não os cedeu a ninguém que interessou-se em dar-lhe continuidade; no mais ele permitiu uma novelização anos depois, um videogame e –pasmem –um musical off-Broadway.
Entretanto, esse mesmo excesso de protecionismo e zelo talvez tenha preservado “O Último Guerreiro das Estrelas” da forma como ele é: Uma aventura cheia de simbolismo e referências à cultura pop da década de 1980, que pertence exclusivamente àquele período para o bem e para o mal, e que há de existir na memória afetiva daqueles jovens como uma das mais divertidas e empolgantes aventuras vivenciadas nas telas daquela época.

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