Toda experimental, esta animação em curta-metragem reflete bem as predisposições lisérgicas e psicodélicas de muitos jovens realizadores da época –anos 1970 –que com frequência recorriam à liberdade e à autonomia da animação para materializar suas inquietações surreais, insólitas e oníricas diante da impossibilidade de levantar recursos para um filme em live-action que albergasse ideias tão mirabolantes; embora tivessem, sim, havido alguns casos de filmes com atores que ganharam a luz do sol.
Não há um fio narrativo lúcido nos
imponderáveis dezoito minutos de duração de “Asparagus”: Ele se inicia da forma
mais desconcertante possível quando vemos o que parece ser sua personagem
protagonista –uma mulher num apartamento, sem o rosto devidamente esboçado ou
definido –ir até o banheiro e defecar (!). suas fezes, que na verdade são os
vegetais que dão nome ao filme (um objeto recorrente nos delírios visuais que
se seguirão), formam o título (!) e o filme assim começa.
Tudo parecer ser um devaneio da parte de sua
personagem principal; ela vai à janela e imagens de um delírio inapreensível
transcorrem lá fora. Em seguida, após outras cenas nebulosas, tortuosas e
enigmáticas, a vemos num grande salão de ópera, onde uma multidão assiste a um
espetáculo algo indescritível –transcorrem no palco elementos imprecisos e
incertos a compor formas abstratas sem qualquer especificação. A protagonista
se esgueira até os bastidores apenas para flagrar as facetas frustrantes da
ilusão e em seguida volta para casa.
Lá, mais uma bateria de delírios eróticos
envolvendo os tais asparagus se sucedem, e ela pratica o que parece ser sexo
oral num desses objetos fálicos –ao longo dessa felação, manifestações diversas
do que pode ser o sexo, a prostituição e a compulsão, em suas mais variadas
consequências dentro da sociedade surgem saídas de sua boca; lembrando que essa
personagem não possui nem olhos nem nariz, sendo portanto destituída de
expressões humanas.
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