O cinema comercial é um mar melindroso de se navegar, mais ainda se o seu objetivo vai além do sucesso propriamente dito de um único filme, mas almeja plantar uma semente que leve a toda uma franquia. O público em geral tem um paladar que pede por fórmulas confortáveis, mas que não se prendam à repetição mecânica, sendo temperadas com alguma ousadia e contravenção para se fazer minimamente surpreendente em algum momento.
A Marvel Studios fez escola, e sucesso
estrondoso, sabendo administrar esse cardápio.
Muitos foram os que tentaram e não conseguiram.
Nesse sentido, uma das primeiras tentativas da DC Comics –que, pelo seu
catálogo vasto de conhecidos super-heróis, era a aposta mais óbvia à seguir os
passos da Marvel –foi esta produção de 2011 que, pelo perfil dos envolvidos
(era dirigida por Martin Campbell, que quatro anos antes entregou o fenomenal
“Cassino Royale”; e estrelada por Ryan Reynolds, então um astro em potencial),
pelo apelo de seu personagem (uma criação uma bocado original que, nos quadrinhos,
ombreia em relevância tanto com Superman quanto com Batman), e pelos indícios
inicialmente demonstrados pelo próprio filme (cujas primeiras imagens e
trailers apontavam para uma realização visualmente caprichada, com ação e
personalidade), prometia acender o estopim que poderia colocar os heróis da DC
no cinema.
Se tudo parecia no lugar –e, de certa maneira,
realmente estava –“Lanterna Verde” tornou-se uma prova de que, se há um
elemento que garante a qualidade (ou falta dela) em um projeto desde sua
gênese, este é o roteiro: Escrito pelo quinteto Greg Berlanti, Marc Guggenheim,
John Broome, Michael Greenberg e Michael Goldenberg, “Lanterna Verde”
desperdiça as facetas épicas embutidas na origem do herói (da qual este filme
se incumbe sem maiores entusiasmos) para tentar fazer uma comédia inapropriada
na maior parte do tempo –e isso acaba contaminando o bom diretor Campbell que,
se consegue imprimir sua experiência na execução de cenas flúidas e bem
filmadas, equivoca-se ao optar por um estilo diferenciado de edição onde
sequências distintas, como lembranças, se sobrepõem à outras cenas sem um propósito
narrativo que as entrelaçasse e sem uma emoção que as fizesse válidas.
Em meio à todo esse equívoco, Ryan Reynolds
interpreta o piloto Hal Jordan, cujo destino, ele mal sabe, é tornar-se um
super-herói: Nos confins da galáxia, a criatura Paralax, um mal constituído de
medo (ou, ao menos, essa é a pífia definição que ele recebe...) inicia o seu
trajeto para consumir mundos. A Tropa dos Lanternas Verdes, guardiões de vários
setores da galáxia, é enviada para detê-lo, mas Abin Sur (Temuera Morrison, de
“Aquaman”), o lanterna verde do setor onde está a Terra, é atingido e cai,
moribundo, em nosso planeta. Seguindo o protocolo, ele envia seu poderoso anel
mágico para procurar uma alma corajosa e benevolente, digna de substituí-lo, e
eis que ele escolhe Hal Jordan.
Dotados desses novos poderes –que, como é de se
supor, vai gradativamente aprendendo a usar –Jordan entra em contato com os
alienígenas da Tropa de Lanternas Verdes –entre os quais Kilowog (voz de
Michael Clarke Duncan), Tomar-Re (voz de Geoffrey Rush) e Sinestro (Mark
Strong, num personagem que seria o possível vilão da continuação) –passa a
treinar para seu iminente confronto com Paralax –no qual, é claro, ele
desempenhará papel crucial! –e descobre-se o herói que jamais imaginou ser.
Em algum momento dessa jornada, existem os
desnecessários acréscimos de um núcleo humano, a dar conta de uma trama
sucedida aqui na Terra, e que mostra o vilanesco Hector Hammond (Peter
Sarsgaard) sendo contaminado pela matéria que gerou Paralax e virando, ele
próprio, o monstrengo da vez, ameaçando com isso a vida de seu pai, o Senador
Hammond (Tim Robbins) e da agente do governo Amanda Waller (Angela Bassett, num
papel interpretado depois por Viola Davis em “Esquadrão Suicida”); há também a
introdução do inevitável interesse romântico do herói, nas curvas sensacionais
de Carol Ferris (a belíssima Blake Lively, que depois casou-se com Reynolds na
vida real).
Nenhum comentário:
Postar um comentário