sexta-feira, 5 de fevereiro de 2021

Uma Vida Melhor


 O ator mexicano Demian Bichir ficou conhecido por seu papel na série “Weeds”, mas o grande ponto de virada de sua carreira foi mesmo a indicação ao Oscar de Melhor Ator obtida por este “Uma Vida Melhor”; nele, Bichir interpretada, com primazia sólida e inconteste, um protagonista representativo das aflições sociais, físicas  e factuais de todos os imigrantes latinos nos EUA; Carlos Galindo, seu personagem, é um mexicano que vive e trabalha como jardineiro em L.A. junto do filho adolescente, Luiz (José Julián). A situação de Carlos se encontra sempre na corda bamba: Imigrante ilegal, ele precisa se manter longe do jugo policial, uma vez que é a única pessoa com quem o filho pode contar.

De seu lado, Luiz estuda numa escola onde as opções, aos filhos de imigrantes, se resumem em aderir à criminalidade das gangues, ou viver a mediocridade da subordinação.

Entretanto, o roteiro de Eric Eason e Roger L. Simon e a direção de Chris Weitz tratarão de dispor os elementos que ameaçarão mesmo esse frágil status quo: Carlos está à beira do ameaçador desemprego; seu contratante, Blasco (Joaquin Cosio), deseja vender a caminhonete com a qual movimentava o negócio de jardinagem nas mansões de Beverly Hills.

Ele sugere a Carlos que compre seu veículo progredindo de empregado à empregador, mas Carlos reluta em assumir tal risco; contudo, diante da alternativa –voltar à disputar serviços de um dia com imigrantes em situação ainda pior que a dele –Carlos decide tomar um empréstimo da irmã, Anita (Dolores Heredia), e realizar a compra.

Em seu primeiro dia, porém, Carlos tem a caminhonete roubada pelo outrora aparentemente confiável Santiago (Carlos Linares), ficando sem opções.

Agora, Carlos, ao lado de Luiz, deve seguir as pistas que tem a fim de reaver o veículo roubado e sua única chance de colocar a vida sua e do filho nos trilhos.

Mais do que fornecer um retrato das ingratas circunstâncias dos imigrantes latinos e sua celeuma trabalhista nos EUA (embora essa também seja uma das intenções do diretor Chris Weitz), o filme acompanha pai e filho nessa tortuosa jornada, entrevendo suas diferentes índoles e percepções acerca das mazelas com que se deparam: Luiz é impulsivo, agressivo, tem a impaciência da juventude, e com frequência isso o leva a não compreender as atitudes do pai, e não ser compreendido por ele; Carlos entende na pele as aflições experimentadas por seu povo e, na ânsia de passar certa conciliação ao filho, exprime sua compaixão, mesmo por aqueles que, num primeiro momento, não parecem merecê-la, como Santiago.

Em sua contundência quase aventuresca, o roteiro lança mão do recurso de jamais compensar qualquer boa ação do personagem principal, afunilando suas desventuras em vez disso, o que ajuda a afligir gradativamente o público. Na esteira dessas frustrações, vemos Carlos e Luiz não só perderem à caminhonete –o objeto que a narrativa lhes faz sempre tentar recuperar, e sempre lhes toma de seus dedos por meios de inquietantes estratagemas –mas, também a terem sua permanência em solo americano contestada –o que pode levar Carlos à deportação para o México, afastando-o de Luiz.

De ritmo certamente apetecível às intenções abertamente comerciais da obra, e ornado com a habilidade que o diretor Weitz já demonstrou em trabalhos dos mais variados gêneros, “Uma Vida Melhor” imprime um viés de melodrama nem sempre perfeito aos seus objetivos realistas, naturalistas e neo-realistas. O fator que o faz funcionar de verdade é, sem dúvida, a presença austera e catalisadora de Demian Bichir, formidável ator que compreende de forma instintiva e precisa as nuances estóicas na trajetória de seu personagem.

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