segunda-feira, 8 de fevereiro de 2021

Blaze - O Escândalo


 Os norte-americanos têm uma curiosa mescla de predisposições ideológicas em suas políticas internas, cheias de manhas e de facetas politicamente incorretas; e tão mais elas são exaltadas quando o retrato parte de um filme feito nos anos 1980, quando havia menos pedantismo na caracterização de seres humanos inclinados ao céu e ao inferno, mesmo que saídos de histórias reais.

“Blaze-O Escândalo” parece não se importar muito com certas indiscrições circunstanciais que acometem seu raivoso protagonista, na verdade, ele se abastece disso.

O filme dirigido por Ron Shelton, antes de mais nada, é um encontro de almas. Da dançarina de striptease de origem humilde de nome artístico Blaze Starr (a sensacional Lolita Davidovich, de “Objeto do Desejo”), com o governador da Louisiana, candidato à reeleição, Earl Long (Paul Newman, uma força da natureza).

Em meados da década de 1950, Blaze até almejava o sucesso como cantora, enxergando sua arte com ingênuo deslumbre, entretanto, de radiante beleza ruiva e corpo escultural, Blaze emplacou de verdade como stripper em casas noturnas de Nova Orleans, foi numa delas que conheceu Earl, cuja paixão fulminante por ela logo atropelou qualquer protocolo que sua situação cobrava –embora o impetuoso Earl nunca tenha sido chegado à sutilezas mesmo.

A partir do romance entre os dois, o filme de Shelton acompanha os meandros da trajetória política de Earl em busca da reeleição: Suas ideias progressistas batem de frente com partidários e correligionários que não desejam vê-lo defendendo, por exemplo, a emenda que concede direito de voto aos negros. E sua personalidade explosiva, avessa à concessões alimenta sua fama (passa a ser apelidado de “governador maluco”!), mas prejudica sua imagem.

Nesse roteiro cheio de irônicas e inevitáveis farpas à desenvoltura política em tempos propagandistas, o menor dos empecilhos, ao contrário do inicialmente sugerido, é o romance entre Blaze e Earl, embora isso, lá pelas tantas, vá pesar na trama também.

Adepto de dramas desportistas –realizou “Sorte No Amor” (beisebol), “Homens Brancos Não Sabem Enterrar” (basquete) e “O Jogo da Paixão” (golfe) entre outros –o diretor Ron Shelton deposita energia muito parecida em seu esforço de caracterizar os arroubos peculiares do personagem que tem em mãos, um populista de predisposições sempre passionais, cuja exuberância psicológica (além da presença ofuscante de seu fantástico intérprete) coloca, por vezes, a protagonista de fato, Blaze Starr, para escanteio.

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