sexta-feira, 12 de abril de 2019

Objeto do Desejo

Uma daquelas produções datadas do início dos anos 1990 que ficaram mais conhecidas em homevideo do que em cinema, este filme do diretor Michael Lindsay-Hogg faz uma curiosa observação entre os conceitos de beleza e valor.
Pivô para esse olhar e esse discurso é uma escultura em busto concebida pelo artista Henry Moore que movimenta toda a trama.
Inicialmente, ele pertence à Tina (a inebriante Andie MacDowell), socialite que a ganhou de presente do ex-marido.
Tina agora está envolvida com Jake (John Malkovich), ao lado de quem quer desfrutar do bom e do melhor que a vida burguesa pode oferecer.
Há também a criada e surda-muda Jenny (Rudi Davies) que, em sua ignorância ingênua, dá o gatilho para as grandes complicações da trama, e para o próprio infortúnio.
Acontece que Tina e Jake já não têm como manter a vida de refinamento e conforto que tanto apreciavam. O dinheiro se foi. A única garantia, permanece sendo o busto deixado para Tina, uma obra preciosa cujo valor pode lhes preservar o patamar social.
Todavia, a estátua desaparece e tanto Jake quanto Tina se desesperam por seu sumiço por distintas razões e propósitos.
Para Jake (cuja relação com Tina começa a ruir por causa disso), é sua oportunidade de manter a vida de grã-fino que escapa misteriosamente por seus dedos; para Tina, é a inesperadamente agridoce lembrança do ex-marido (e estabilidade que outrora tinha) que se vai; já para Jenny, despida dos interesses financeiros ali envolvidos, a obra de arte exerce um fascínio a ela indescritível –de alguma forma, ela possui o poder de trazer encanto para sua vida atribulada e miserável.
Aparentando uma referência gaiata à “Esse Obscuro Objeto do Desejo”, de Luis Buñuel, em seu título nacional, o filme de Lindsay-Hogg, em sua ostensiva sofisticação, se contenta em oscilar entre uma comédia romântica, um ocasional drama sobre veleidades perdidas e uma farsa quase inconsequente sobre as frivolidades apáticas da burguesia e do materialismo.

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