sexta-feira, 12 de abril de 2019

Aconteceu Naquela Noite

Grande trabalho do diretor Frank Capra, este magnífico conto de ironia e aventura sobre os percalços do destino é, de um modo ou de outro, influente até hoje, seja no molde fundamental que representa para o gênero das comédias românticas, seja na técnica assombrosamente sofisticada que o diretor Capra empregou (e que lhe rendeu um merecido Oscar de Melhor Direção), seja importância significativa que este filme tem para a própria cultura pop –o personagem de Clark Gable, em seus trejeitos memoráveis é a clara e declarada inspiração para Chuck Jones criar o coelho Pernalonga (repare numa cena em que ele come uma cenoura!); e uma das cenas mais imitadas da história do cinema é certamente aquela em que Claudette Colbert consegue pegar carona parando um carro ao mostrar suas pernas!
Na trama deliciosamente narrada que segue, temos a adorável e rebelde Ellie Andrews (a quem Claudette empresta genuíno fulgor), filha de um milionário que se ressente por ela querer casar com um pretendente que, em sua ótica, é um óbvio aproveitador.
Indignada com a falta de respeito por sua própria escolha –o que já é um indicativo do quão a frente de seu tempo é este filme ao incluir em sua premissa um esboço da emancipação da mulher –Ellie foge de casa, metendo-se em mais confusões do que uma jovem de família rica sem conhecimento do mundo é capaz de escapar.
Por sorte, Ellie não está sozinha: Logo, o destino trata de entrelaça-la (a contragosto é bem verdade) com o desafortunado jornalista Peter Warne (Gable, divertido, carismático e irrepreensível) que, na aflição do desemprego generalizado daquela Grande Depressão, percebe que Ellie pode representar uma história e tanto que lhe tire da rua da amargura.
Se hoje soa óbvio o fato de que no início os pombinhos não se bicam, mas dentro em breve irão de apaixonar –e a implicância sardônica entre eles parece autêntica porque Gable e Colbert de fato não se deram bem durante as filmagens –é porque o enredo básico que constitui este filme foi empregado e reempregado à exaustão por todas as comédias românticas que vieram depois.
É seguro dizer que em nenhuma delas essa estrutura narrativa funciona tão bem quanto nesta aqui: Das rusgas que se convertem em encantos recíprocos; da descoberta acidental, salutar e transformadora do verdadeiro amor, e do bem elaborado e divertido desenlace para os complicados desdobramentos morais e éticos que os envolvem –e que certamente se estendem até o jogo de interesses da fortuna da família da moça –o filme de Frank Capra é um achado em todos os seus aspectos.
Tão singular é essa qualidade que ele até hoje ocupa um lugar de honra entre os premiados com o Oscar: Ao lado de outras duas obras-primas (“Um Estranho No Ninho” e “O Silêncio dos Inocentes”), ele é um dos três únicos filmes a conquistar todos os cinco prêmios principais da Acdemia –Melhor Filme, Melhor Diretor, Melhor Ator, Melhor Atriz e Melhor Roteiro.

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