Realizado depois de “Quanto Mais Quente Melhor” e logo antes de “Os Desajustados” –o último filme de Marilyn Monroe –este “Adorável Pecadora” pertence à fase em que ela já era uma estrela consolidada e absoluta; e para tanto é quase inevitável que os propósitos do filme e os interesses do público girem em torno dela, ainda que na obra original (“Avenida dos Milhões”, de 1937, do qual este é uma refilmagem) a mesma personagem tivesse menos estatura e expressão.
Marilyn desestabiliza o filme com seu carisma.
Quando ela está em cena, incita uma irresistível vontade de ignorar os demais
personagens –inclusive seu protagonista –de deixar de lado a compenetração para
com a trama (toda divertidamente rocambolesca) e de sequer prestar atenção às
falas. A câmera se apaixona por ela: Temos vontade de procurá-la no
enquadramento quando ela não está presente; nos fixamos com fascínio
inesgotável quando ela está.
Habilidoso, o diretor George Cukor faz o que
pode para harmonizar o filme que tem em mãos, a despeito da presença singular
de sua estrela, pois, antes de Marilyn, quem protagoniza “Adorável Pecadora” é,
na verdade, o francês Yves Montand no papel do mulherengo e milionário
Jean-Marc Clemént –personagem este cujo divertido histórico de enriquecimento
familiar é narrado no prólogo.
E Yves Montand até que funciona bem: Aparenta
ser, no início, um protagonista sisudo e sem atrativos com seu rosto marcado e
sério –característica potencializada pelo forte sotaque francês –mas, quando
seus dotes cômicos logo entram em cena, esses elementos promovem uma grata
surpresa ao expectador.
Ao descobrir que sua alardeada fama de playboy
servirá de tema à uma paródia num espetáculo teatral off-Broadway, Jean-Marc
tem a ideia de comparecer aos ensaios para amenizar a má publicidade. Lá, acaba
arrebatado por uma aparição: Mandy Dell, personagem de Marilyn Monroe, surge em
meio à um ensaio, encantando o milionário (e a plateia junto) com seu misto
inigualável de formosura, magnetismo e sex-appeal.
Fazendo-se passar por mais um dos imitadores de
Jean-Marc Clemént (dentre os muitos que perambulavam por ali), o milionário
aborda a moça, convencendo-a de que é mais um dos muitos atores empobrecidos
atrás de um lugar ao sol. Apaixonado, ele decide manter a farsa ao perceber que
seus milhões dificilmente haverão de conquistar aquela garota avessa à adulação
dos ricos.
Ele se dispõe a conquistá-la usando apenas de
seu charme, mas descobre, nos dias que se seguem, que isso não é nada fácil:
Mandy tem certa proximidade com Tony Danton (Frankie Vaughan), astro do show, e
os gerenciadores do teatro não o deixam em paz. A saída é valer-se
indiretamente da riqueza: Jean-Marc compra o próprio teatro fazendo com que seu
braço-direito, George (Wilfrid Hyde-White), torne-se o principal investidor da
peça –exigindo assim, seu destaque nela –e ainda contrata o humorista Milton
Berle, para ensiná-lo a ser engraçado, Bing Crosby, para torná-lo um prodigioso
cantor, e Gene Kelly, para fazer dele um hábil dançarino –todos eles em fabulosas
participações especiais não-creditadas!
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