Durante a década de 1980, como já foi falado em outras ocasiões, os Trapalhões –formados por Didi (Renato Aragão), Dedé, Mussum e Zacarias –reinavam nas bilheterias nacionais. Seus filmes, feitos para toda a família, levavam multidões aos cinemas e essa tradição se manteve por muito tempo com praticamente uma produção lançada a cada ano. Entretanto, no final daquela década as coisas começaram a mudar; novos nomes emergentes do showbuziness brasileiro (com destaque para Xuxa, Gugu Liberato ou o Grupo Dominó...) passaram a dar as caras nos filmes dos Trapalhões, em princípio, como coadjuvantes de luxo, porém, mais e mais influentes e relevantes na trama a ponto de, em certo momento, suplantarem a importância do próprio quarteto, supostamente protagonista. O auge –ou seria, o cúmulo? –dessa circunstância chegou em “Uma Escola Atrapalhada”, filme lançado em 1990, que em alguns casos gerou indignação na plateia: Os expectadores que foram ao cinema conferir o filme na esperança de ver seus amados Trapalhões como personagens principais (afinal de contas, o adjetivo “atrapalhada” em seu título leva à essa constatação) se depararam com um filme sobre os jovens estudantes de uma escola carioca, às voltas com seus amores, rixas e contratempos diretamente relacionados à escola que frequentam –em suma, quase um embrião oitentista do que viria a ser, quase uma década depois, a novela juvenil “Malhação”.
Dos Trapalhões, contudo, há bem pouco: Didi,
Dedé, Mussum e Zacarias, como veremos mais a frente, são reduzidos aos usuais
‘alívios cômicos’ da obra tal é sua insignificância junto ao enredo.
E quem são os protagonistas? Bem, “Uma Escola
Atrapalhada” não traz Xuxa, não traz Gugu Liberato (bem, traz, mas numa breve
aparição), não traz o Grupo Dominó (em vez dele, é o Grupo Polegar...). O grupo
de jovens estudantes que ocupam a maior parte do tempo da narrativa são vividos
por jovens celebridades em ascensão daquele período. Em especial, Angélica –no
papel de Tami –que era, então, a mais relevante ‘competidora’ de Xuxa como a
mais amada apresentadora infantil do Brasil; e o cantor Supla –no papel de
Carlão –cujo atitude parte rock’n roll, parte sufista calhorda, parte bad boy
devia fazer a cabeça das meninas. Os dois são o casalzinho protagonista do
filme dirigido à duras penas por Antonio Del Rangel (de “O Trapalhão Na Arca de
Noé”). E quanto constatamos, de pronto, a incapacidade profunda que os dois têm
para atuar, já concluímos o suplício que “Uma Escola Atrapalhada” será...
Tami é uma garota recém-chegada à nova escola
do Rio de Janeiro e, por conta disso, seu mistério gera interesse e falatórios
pelas dependências do lugar, antro povoado de alunos mimados, filhos de pais
ricos, ávidos por posarem como rebeldes. Carlão é o típico exemplar disso:
Imaturo, birrento, trajado em roupas estapafúrdias (até mesmo para os padrões
dos anos 1980!), ele é irritante, apático e grosseiro –características que,
devido ao fato de definirem o protagonista do filme, colocam tudo a perder. E
além disso, somos obrigados a testemunhar um ‘pseudo-clipe’ estrelado por ele,
besuntado em óleo (!?!).
O roteiro também em nada ajuda: Segue a velha
fórmula na qual o casalzinho se estranha em disputas sexistas até o fim, quando
descobrem, de forma bem maniqueísta, que se amam –num desfecho romântico
completamente destituído de química e envolvimento.
O restante do filme mostra basicamente o
dia-a-dia na escola, com antagonistas criados com a maior afetação do mundo (a
caricatura de ditador militar construída por Ewerton De Castro), e as intrigas
adolescentes entre os alunos (onde se sobressai a participação de alguns dos
membros do Polegar, além do vilãozinho vivido por Selton Mello).
Ah, sim, e quanto aos Trapalhões? Eles sequer
surgem juntos na mesma cena –na realidade, isso acontece num único trecho do
filme! Enquanto Didi repete o mesmo personagem de sempre –o cearense
pau-pra-toda-obra e amigo de todo mundo –enamorado de uma bela professora
(Cristina Prochaska) que, por sua vez, ama o professor de educação física (Marcelo
Picchi). Mussum interpreta Mago Mumu, uma espécie de cartomante (?!) que
trabalha nas redondezas da escola (em alguns momentos, parece que ele o faz
DENTRO da escola!!), e Dedé e Zacarias vivem dois agentes anti-bombas (ou algo
bem esdrúxulo parecido com isso...) que surgem na história quando a escola
sofre um alerta de atentado à bomba (!) –na sequência, eles protagonizam cenas
cômicas bem infantilizadas (e sem graça alguma) onde, ao invés de fazerem
adequadamente seu trabalho, eles são zoados pelos alunos inconsequentes do
lugar.
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