Depois que se assiste “Deadgirl”, a luz do sol não traz mais conforto. Isso se deve pelo fato da trama abordar com um viés quase despreocupado a aflitiva questão do estupro.
Quando os jovens Rickie
e J.T. (Shilo Fernandez, de “Evil Dead”, e Noah Segan) encontram uma jovem
morta-viva acorrentada a uma mesa num hospital psiquiátrico abandonado, logo um
pensamento doentio ocorre: J.T., rejeitado e desprezado pelas garotas de sua
escola, enxerga na jovem zumbi a oportunidade para saciar seus anseios sexuais
(!).
Fica assim a questão –para
alguns despercebida devido ao assombro que os acontecimentos causam –se um
zumbi não é um ser vivo, ele merece as
gentilezas prestadas a um ser vivo? E se não, o que ele é, já que afinal se
move e exprime autonomia?
Na verdade, essas e
muitas outras questões aparecem ao longo da premissa que explora a amoralidade
que brota, sobretudo, a partir da avidez da juventude: Convertendo o local numa
espécie de moradia sua, J.T. se torna, apesar de suas juras de amor à jovem zumbi,
praticamente numa espécie de cafetão (!). Ele e um outro amigo, Wheeler (Eric
Podnar), passam a abusar do corpo da ‘deadgirl’, estuprando-a –e, não raro, infligindo-lhe
ferimentos horríveis, alguns até mortais. No transcorrer dos dias, se a
decomposição e a violência promovem a deterioração do corpo –ainda que os
lascivos e perversos adolescentes não deem qualquer atenção para isso (!!!) –a
atitude dos jovens é usar de alguns artifícios para disfarçar a má impressão
estética: Eles inicialmente tentam remendar a morta-viva para, enfim, colocar
uma foto de outra mulher na cara dela (!).
Contudo, Rickie acaba
sendo pressionado por dois valentões locais a revelar o que se passa com seus
amigos. E isso só leva os abusadores da ‘deadgirl’ a crescer em número. Logo,
os jovens do lugar fazem fila para aproveitar-se sexualmente da garota
convertida em zumbi –e cada vez mais dilacerada fisicamente!
Entretanto, a dupla de
diretores, o norte-americano Marcel Sarmiento e o israelense Gadi Harel, tem
consciência de que toda a premissa a envolver um zumbi, em algum momento,
chegará num ponto em que um lapso eventual deflagrará a inevitável catástrofe,
e com a combinação desastrosa entre adolescentes, hormônios descontrolados
e circunstâncias delicadas, não haverá
de ser diferente.
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