sábado, 30 de julho de 2022

Drácula


 No início dos anos 1930, os estúdios da Universal obtinham grande sucesso com obras que adaptavam grandes monstros famosos como “Frankenstein” e “A Múmia”, estreladas então por Boris Karloff... a continuidade natural era arregimentar para suas fileiras outro célebre monstro da literatura, o Conde Drácula, desta vez fazendo adequadamente o dever de casa, obtendo os direitos autorais de adaptação com a família do próprio autor, Bram Stoker, e concebendo uma obra completamente fiel ao livro famoso; diferente do que havia feito o alemão F.W. Murnau anos antes com “Nosferatu”.

Para a direção, a Universal requisitou Todd Browning de olho em sua capacidade singular para sublinhar o terror em narrativas pouco óbvias. Já para o papel principal, embora o ator húngaro Bela Lugosi fosse a escolha mais óbvia, em vista do enorme sucesso conquistado por sua presença na adaptação de “Drácula” para os palcos da Broadway, e depois em todo território americano, o estúdio sondou Lon Charney, de olho na bem-sucedida parceria entre ele e Todd Browning em “O Fantasma da Ópera”, e outros sete aclamados filmes.

Charney, porém, faleceu de câncer antes das filmagens começarem e mesmo os atores que o estúdio ventilou em seu lugar não estavam disponíveis: Parecia ser mesmo o destino que Bela Lugosi viesse a interpretar Drácula no cinema e marcar o papel com seus trejeitos antológicos, construídos com a percepção de pantomina do cinema mudo, mas ciente também do viés macabro que esses elementos haveriam de agregar ao personagem.

Na calada noturna de uma pra lá de sombria Transilvânia, o advogado Jonathan Harker (David Manners) conhece seu excêntrico cliente Conde Vlad Drácula (Lugosi) que o recepciona em seu castelo sem maiores preocupações em esconder dele que, sim, á algo ali de muito errado. Em cartas cada vez mais aflitas, Harker relata o estranho comportamento de seu cliente –só dá as caras à noite quando o sol já se pôs, nunca aparece comendo e tem aversão à crucifixos –e as pavorosas aparições que vinha vivenciando. Algo que, à propósito, os arredios moradores no vilarejo próximo já lhe tinham prevenido.

A conclusão à qual ele chega surge primeiro no expectador: Drácula trata-se de um vampiro milenar, e o sangue que ele suga do pescoço de Harker pouco a pouco todas as noites (o que logo acaba drenando-lhe vertiginosamente as forças) só lhe interessa menos do que encontrar Mina (Helen Chandler), a noiva de Harker que Drácula avistara em um porta-retrato e que, desde então, se tornara sua obsessão.

Mas, Mina, quando Drácula finalmente à encontra, é cercada por um séquito de coadjuvantes que haverão de protegê-la, em especial, o intelectual e desconfiado professor Van Helsing (Edward Van Sloan), cujos estudos apontam para a existência de uma criatura sobrenatural da qual o Conde Drácula pode ser o único exemplar que ele terá a oportunidade de confrontar.

Ainda que em seu desfecho e desenlace o filme de Browning perca consideravelmente a força narrativa que vinha demonstrando –sobretudo, a capacidade poderosa de impor uma atmosfera tétrica a partir das mais simples mecânicas de cena –a imagem muito bem planejada e hoje icônica de Bela Lugosi como Drácula é um instante clássico e imortal do cinema que dificilmente abandonará a memória do público.

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