sábado, 30 de julho de 2022

Os Agentes do Destino


 Há certa beleza nesta adaptação de Phillip K. Dick (autor de "Blade Runner" e "Minority Report"), aclamado escritor de ficção científica cuja obra sempre questionou a manipulação da vida. contudo, o trabalho do diretor George Nolfi, se prima por uma austeridade que lhe confere uma elegância incomum às obras corriqueiras do cinema norte-americano, ele também se mostra mais portentoso do que esclarecido: Se há uma mitologia mais detalhada por trás dos intrigantes ‘homens de chapéu’ que surgem no filme, ela fica completamente relegada nas entrelinhas –as explicações que são fornecidas ao protagonista (e, por conseguinte, ao público) são vagas e sem maiores aprofundamentos. Seriam eles alienígenas? Agentes multi-dimensionais? Titereiros do caos vindos do futuro?

Nada em relação a isso fica muito claro, passando a impressão, de um certo ponto em diante, que o suspense assim  esboçado em torno de tal mistério foi mais perfumaria do que narrativa, e na expectativa de respostas válidas às questões que ele mesmo plantou, o filme entrega, em seu clímax, um corre-corre aventuresco sem muita inovação, como se ao acelerar o ritmo, um lapso desses pudesse assim ser compensado.

Na trama acompanhamos um jovem congressista (vivido por Matt Damon), candidato ao senado de Nova York, conhecendo uma bailarina (Emily Blunt, hábil em encantar) no dia em que descobre ter perdido sua eleição. Por ela, o rapaz se encanta de imediato. Torna a revê-la por acaso algum tempo depois, mas, quando tenta manter com ela um relacionamento, é detido por estranhas figuras trajando terno e chapéu, donos, ao que parece, de um estranho poder controlador da realidade. Segundo estes, o amor por ela não faz parte do "plano" estabelecido para ele. O papel dela teria sido tão somente de ‘inspirá-lo’ num determinado ponto de sua vida, nada mais. Contudo, os dois compartilham, nesse breve encontro, de um amor avassalador que não estava nos planos dos ‘homens de chapéu’ que, munidos de seus curiosos poderes –capacidade de teleporte, uma espécie de telecinese e alarmante predisposição para se meter na vida alheia (!) –procuram tentar separá-los, numa forma de forçá-los a seguir um rumo predeterminado de vida. apesar disso, o casal enamorado conta com a simpatia de um desses homens (Anthony Mackie, de “Guerra Ao Terror”, antes de se tornar o Falcão em “Capitão América-O Soldado Invernal”) que tentará ajudá-los.

Em sua despretensão e simplicidade este filme, austero e discreto, acerta em quase tudo que se presta, sobretudo a escolha do par central, o sempre competente Matt Dammon e a inglesa Emily Blunt, belíssima. É, no entanto, profundamente frustrante, os rumos adotados por sua premissa, que sugere, durante sua primeira metade, um desafiador questionamento de realidade ao estilo “Matrix”, temperado com elementos mais mundanos e, por que não, introspectivos, para então, gradualmente, ir abandonando esse instigante aspecto –o de uma ficção científica com uma proposta bastante singular perante seus pares –para investir na preguiçosa proposta de um casal apaixonado lutando contra qualquer obstáculo por seu amor. Ainda que esse tal obstáculo apareça na história como um grande e aparentemente intrincado vácuo que nunca recebe a devida justificativa.

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