Os astros Richard Gere e Kim Basinger já haviam
feito um par no romance policial “Sem Perdão”, de 1986 –uma das muitas obras
comerciais ameaçadas pelo esquecimento à medida que novas mídias perpetuam
apenas alguns específicos títulos –e tornaram a fazê-lo, já em 1992, com este
“Desejos”, onde o diretor Phil Joanou (de “Te Pego Lá Fora”) traveste-se até
descaradamente de Alfred Hitchcock; e cujo oportunista título nacional
certamente almejou capitalizar em cima de sua atriz principal, um dos maiores símbolos
sexuais dos anos 1980 e 90.
“Desejos” começa em São Francisco com a rotina
usual do psicanalista Dr. Isaac Barr (Richard Gere) que atua tanto privadamente
(atendendo as neuroses de seus clientes) como publicamente (prestando
avaliações psicológicas em casos julgados no tribunal), sobretudo, aqueles
defendidos por seu melhor amigo, o advogado O’ Brien (Paul Guilfoyle, de
“Spotligth-Segredos Revelados”).
Entre os clientes que o Dr. Barr atende está
Diana (Uma Thurman) cujos transtornos parecem tão profundos que levam ele a
consultar também a irmã mais velha dela, Heather (Kim Basinger).
Entretanto, Heather é extraordinariamente bela
e sedutora, e não tarda a fazer do disponível Dr. Barr seu amante. Ela é casada
com o gangster Jimmy Evans (Eric Roberts), e com isso, as engrenagens do
suspense usual já começam a girar. No entanto, o diretor Joanou, em dado
momento sai-se com uma guinada (que curiosamente não surpreende) quando
Heather, num surto repentino, o mata.
“Desejos” converte-se então em um filme de
julgamento (sub-categoria que proliferou nos anos 1990), onde está em jogo a
inocência de Heather e seu romance com Isaac Barr.
Até então, o filme testa consideravelmente a
paciência do expectador com uma condução enfadonha e lenta onde o diretor
procura saborear os meandros minimalistas da narrativa enquanto planta indícios
que se revelarão pertinentes mais tarde, o público, porém, alheio a isso tem
dificuldade de se envolver com tais aspectos: Em grande parte, porque Joanou
não se deu conta de que, enquanto emulava Hitchcock nessa primeira hora de filme,
nada absolutamente acontecia.
Se há algo que assegura algum interesse são
deveras as presenças de Gere (que aqui atua como produtor também) e, em
especial, Kim Basinger, sempre uma atriz funcional em diversos aspectos, além
do desbunde de mulher que é!
É irônico, portanto, que, ao adentrarmos a
segunda metade (ou talvez até o terceiro terço tão arrastada é sua condução),
quando o filme promove uma nova reviravolta, seja justamente a empatia da
personagem de Kim com o público que a narrativa parece descartar, ao
contextualizá-la como uma femme fatale –papel que cai muito bem na loiraça.
Porém (e essa lição parece ter sido esquecida
por Joanou), uma boa antagonista requer um protagonista tão bom quanto, e esse
papel, o personagem entediante e raso de Gere não é capaz de preencher.
Dessa forma, a trama até ganha em surpresas,
mas perde em precisão: Hitchcock, ao contrário daqui, sempre foi hábil e
austero no manejo de elementos e personagens que o público odeia amar e ama
odiar.
O que sobra em “Desejos” são, portanto, as
referências a serem identificadas: A ambiguidade na protagonista que remete à
“Marnie-Confissões de Uma Ladra”; o assassinato súbito (a eliminar um
personagem que aparentava ter importância junto a trama) dando novo rumo ao
filme como em “Psicose”; as insistentes observações de ordem psicanalítica,
como em “Quando Fala O Coração”; e (a mais gritante de todas) o desfecho
retumbante e vertiginoso no alto de um farol que em tudo e por tudo faz lembrar
“Um Corpo Que Cai”.
A homenagem que o estiloso
Phil Joanou presta a Alfred Hitchcock é sincera, faltou apenas fazer um grande
filme (à altura daqueles do mestre do suspense) com ela.
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