O gênero investigativo já rendeu grandes filmes.
Talvez o maior exemplar do gênero seja “Todos Os Homens do Presidente”,
contudo, nos últimos tempos tem sido uma categoria de filmes cada vez mais
escassa, possivelmente devido ao pouco interesse do público, mais e mais
voltado para obras de entretenimento vazio do que produções com conteúdo.
É possível lembrar apenas de “O Informante” de
Michael Mann, com Russel Crowe e Al Pacino, num já longínquo ano 2000... e mais
nada.
“Spotlight” vem para suprir essa lacuna. E o
faz com pompa e circunstância.
Desde o início é um tanto quanto admirável ver
um projeto corajoso como esse ganhar a luz do sol, pois ele toca em temas
escandalosos ao apontar o dedo para a Igreja Católica. Mais admirável ainda é a
inesperada consagração que ele vem obtendo na temporada de prêmios, tirando
ligeiramente um favoritismo que antes parecia ser apenas de “O Regresso”.
Méritos para isso não lhe faltam.
Em 2001, pouco antes do trágico atentado ao
World Trade Center (que é mostrado em um determinado ponto da narrativa), o
novo editor do The Globe, prestigiado jornal de Boston, propõe uma incisiva
investigação aos casos de pedofilia envolvendo padres das paróquias da cidade,
que ao que tudo indica estão sendo varridos para debaixo do tapete pela própria
Igreja. Essa iniciativa, movida por uma equipe jornalística apelidada
"Spotlight" acaba revelando, ao longo dos persistentes meses de
investigação, que tais casos não são ocorrências corriqueiras, mas abusos que
ocorrem em uma imenso número, em comunidades do mundo todo, e em todos os
casos, a atitude da Igreja é a de silenciar as vítimas e minimizar os danos à
própria instituição.
Com base nesse argumento,
primorosamente urgido como roteiro, e contando com um elenco fenomenal (no qual
se faz impossível não destacar o brilho de Michael Keaton e de Mark Ruffalo), o
diretor Tom McCarthy elabora uma intenso e urgente registro do jornalismo
investigativo real -aquele que parece estar morrendo, em face dos blogs e sites
de notícias superficiais da internet -ao mesmo tempo que aborda um tema, no
mínimo espinhoso. Prova de sua perícia, e da qualidade estratosférica que
alcançou, é o fato de que ninguém está se referindo a este magnífico
longa-metragem como uma obra polêmica, mas sim como o grande filme que é.
Nenhum comentário:
Postar um comentário