segunda-feira, 1 de fevereiro de 2016

A Garota Dinamarquesa

Tom Hooper é o mesmo diretor de “O Discurso do Rei” e do musical “Os Miseráveis”. Aqui ele entrega um trabalho melhor do que ambos. O maior problema de “O Discurso do Rei”, na verdade, é que ele ganhou o Oscar de Melhor Filme num ano em que não merecia, derrotando o arrojado “A Rede Social” e mais uma porção de outros concorrentes melhores. Isso atraiu uma espécie de antipatia ao filme, embora no fundo fosse um trabalho redondo e bem-intencionado, ainda que excessivamente acadêmico e conservador. 
Essas características se repetem em “A Garota Dinamarquesa”, ironicamente, uma obra com um tema dos mais audaciosos: A história de Einar Wegener, o primeiro transexual da história a submeter-se à uma cirurgia de mudança de sexo. 
Tudo começa quando Gelda (a maravilhosa e inebriante Alicia Vikander), pintora assim como Einar, seu então marido, o convence a vestir uma meia feminina a fim de terminar um quadro diante da ausência da modela inicialmente contratada. Isso desperta algo em Einar, que pouco a pouco, começa a encontrar sua verdadeira identidade ao vestir-se de mulher (e auto-intitular-se Lily). O quê começa como uma brincadeira do casal de artistas vai se tornando algo realmente sério, que ameaça seu casamento, especialmente quando Einar conclui que Lily é quem ele verdadeiramente é, e decide assim submeter-se à uma operação jamais tentada. 
Este filme não teria a dimensão que ostenta se não fosse por Eddie Redmayne, o jovem inglês entrega um trabalho assombroso, superior a sua caracterização como Stephen Hawkings, que lhe valeu o Oscar de Melhor Ator no ano passado. Na minúcia da interpretação que ele oferece no filme, desvendamos as engrenagens que definem uma pessoa, e que o fazem além, muito além, daquilo que ele deseja: Einar não quer partir o coração de Gelda, a esposa que ele de fato ama, mas ele paradoxalmente não quer mais ser Einar, e em última instância, o marido dela. Ele quer ser uma mulher, quer ser Lily, o ser humano no qual ele descobriu-se por inteiro. E os momentos registrados pelas câmeras de Tom Hooper, nos quais essa descoberta se opera estão entre os mais preciosos do filme. O diretor Hooper almejava em "O Discurso do Rei" atingir um grau de requinte, sutileza e sensibilidade que somente aqui ele consegue fazê-lo. Foi necessário, não resta dúvida o auxílio de dois intérpretes superlativos para isso: Alicia Vikander e, sobretudo, Eddie Redmayne. 

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