Desigual, como aliás, é desigual toda a filmografia dos Irmãos Coen, “Na Roda da Fortuna”, lançado em 1993, vinha na sequência de obras como “Barton Fink-Delírios de Hollywood”, “Ajuste Final” e “Arizona Nunca Mais”; isto é, os Coen chegavam num ponto da carreira em que, ao mesmo tempo que testavam novas formas de contar uma história abordando gêneros novos e desconhecidos, começavam a experimentar algum tipo de aclamação, com prêmios como a Palma de Ouro por “Barton Fink”.
“Na Roda da Fortuna” é a reafirmação dos Coen
por um cinema instintivo onde construíam seus filmes a partir de impressões
que, proposital ou não, pouca vontade tinham para ir de encontro às
expectativas de público ou crítica. É também uma espécie de retorno às raízes
ao firmarem aqui uma improvável colaboração com Ram Saimi que aparece como
co-roteirista em numa participação especial (Raimi, ainda atrelado às trincheiras
dos filmes de terror de baixo orçamento, havia escrito seu escatológico “Dois
Heróis Bem Trapalhões” com a ajuda dos Coen), e uma referência e reverência ao
cinema de Frank Capra, no qual, os esmagadores interesses industriais e
corporativos estavam sempre fadados a serem sobrepujados pelo inocência e pelas
boas intenções.
Como já tinham reputação de serem brilhantes
cineastas (e isso, para minha profunda admiração, eles nunca deixaram de ser),
os Coen já eram capazes de atrair grandes nomes para seu elenco: Aqui, na
trinca de personagens principais, eles contam com Tim Robbins (então aclamado
por “O Jogador”, de Robert Altman, e por “Bob Roberts”, também sua estréia como
diretor), Jennifer Jason Leight (atriz talentosa que, a despeito de seus papéis
sexualmente pesados, conseguira se impor como a grande intérprete que é) e o
astro veterano Paul Newman (a cereja no topo do bolo, que coroava os Coen como
realizadores capazes de despertar o interesse dos maiores de Hollywood).
O título original de “Na Roda da Fortuna”, “Hudsucker
Proxy” –uma brincadeira referencial dos autores com um termo que aparece tanto
em “Evil Dead”, de Saimi, como também em “Arizona Nunca Mais”, dos Coen –é, na
verdade, o título de uma empresa fabricante da Nova York de 1958. Após o
suicídio (mostrado com toda a galhofa pouco usual e o arrojo técnico e
artístico que tornara os Coen notórios) de seu presidente-fundador, o
executivo-chefe Sidney J. Mussberger (Paul Newman, se divertindo a valer) põe
em prática um plano ardiloso: Nomear em seu lugar o substituto mais paspalho
possível a fim de que o preço das ações despenque. O escolhido vem a ser o
ingênuo e sonhador Norville Barnes (Tim Robbins), recém-chegado do interior à
Grande Maçã. Entusiasmo com sua boa sorte, Norville promove a execução de suas
ideias –inclusive a quase pueril iniciativa de produzir bambolês em larga
escala (!) –enquanto a aguçada e destemida repórter Amy Archer (Jennifer Jason
Leight, numa personagem que emula brilhantemente os trejeitos da Rosalind
Russell de “Jejum de Amor”) fareja, nessa improvável história, um escândalo
escondido, destinado a ilustrar as manchetes dos jornais.
Os rumos inesperados (mas, nem tanto) desse
enredo são o sucesso repentino dos bambolês de Norville entre as crianças –o que
gero um efeito inverso às expectativas vilanescas de Mussberger –e o enlace
romântico entre Norville e Amy, fatores que levam Mussberger a revelar, por
fim, suas facetas perversas e manipuladoras.
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