A clássica peça de Ben Hecht e Charles
MacArthur já havia rendido pelo menos um grande trabalho (“Última Hora”, de
Lewis Milestone), e ainda renderia, anos mais tarde, o memorável “A Primeira Página”, de Billy Wilder, entretanto, dentre as diversas variações que a obra
experimentou, “Jejum de Amor”, de Howard Hawks, ganha uma singular importância
pela notável opção de mudar o sexo da personagem de Hildy Johnson (reza a
lenda, que o diretor Hawks teve tal ideia quando pediu a uma mulher para ler
com ele o texto da peça durante uma festa) –ao tornar um de seus protagonistas
uma mulher, a trama irrequieta e cheia de peculiaridades envolvendo
considerações profissionais bolada por Hecht e MacArthur ganha também o
contexto de uma espécie de guerra dos sexos: Se antes, o interesse do
personagem do editor-chefe era garantir seu melhor repórter para dar corpo à
sua bombástica manchete (e fazê-lo compreender, como seu amigo, que o casamento
não inibirá seu ímpeto investigativo), agora, o texto já carregado de
mordacidade, adquire também tensão romântica, no fato de que aos elementos
políticos, profissionais e jornalísticos em jogo, estão também os amorosos.
Katharine Hepburn, Jean Arthur, Margaret
Sullivan, Irene Dunne e Claudette Colbert chegaram a ser convidadas, mas
recuraram o papel que Rosalind Russell torna, aqui, antológico.
Ela é Hildy Johnson, intrépida repórter cujo
casamento marcado com o ingênuo Bruce Baldwin (Ralph Bellamy, de "O Bebê de Rosemary" e "Uma Linda Mulher") transformará
Walter Burns (Cary Grant), editor-chefe do “Morning Post” não apenas em seu
ex-marido com também em seu ex-patrão: Ela afirma querer agora (sem muita
convicção) uma vida tranquila numa cidade interiorana.
Tudo isso se dá durante uma verdadeira celeuma
jornalística: A prisão e iminente enforcamento com fins políticos de um tal
Earl Williams (John Qualen) por ter acidentalmente matado um policial negro,
despertando a ira de sua comunidade; interessado nesses votos, capazes de
reelege-lo, o prefeito de Nova York faz vista grossa aos indícios que poderiam
inocentar Earl e livrá-lo da forca.
Contudo, Burns deseja usar os recursos do
“Morning Post” para salvar a vida de Williams e o desempenho de Hildy em seu
plano será fundamental –desde que ele consiga, com muita lábia e jogo de
cintura, convencê-la a adiar a viagem de trem para Albany, onde pretende
casar-se e se aposentar da vida de repórter.
Burns pretende encontrar uma forma de provar à
Hildy não apenas que o ofício de repórter é indissociável dela, como também que
ainda é o homem de sua vida.
Embora muito lembrado por
diversos títulos imponentes realizados dentro do gênero faroeste, o diretor
Howard Hawks sempre teve mais apreço pela fascinante mecânica teatral das
encenações em ambientes fechados –a prova disso é que, aqui, ele guia um texto
que se alterna em pouquíssimos cenários, amparado quase exclusivamente na
intensidade desafiadora de seus diálogos (numa média de 240 palavras ditas por
minuto) e na energia de seus atores em cena (em especial, Cary Grant e Rosalind
Russell, que estão brilhantes); e o faz parecer frenético e agitado, nunca
permitindo que o teor verborrágico torne o ritmo enfadonho ou arrastado.
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