A iniciativa dos Estúdios Disney de conceber
versões em live-action de suas animações sempre esbarrou num problema: O fato
de algumas dessas obras serem produções louvadas pelo público e, não raro,
criações cinematográficas irretocáveis.
Mal essa tendência havia se tornado lucrativa
–com os sucessos de “Alice No País das Maravilhas”, de Tim Burton, “Malévola”,
de Robert Stromberg (com Angelina Jolie), “Cinderella”, de Kenneth Branagh, e
“Mogli-O Menino Lobo”, de Jon Favreau –e a Disney já resolveu segurar o touro
pelos chifres e adaptar uma de suas mais aclamadas obras: O desenho animado
que, entre outras honrarias, foi a primeira animação a ser indicada ao Oscar de
Melhor Filme, “A Bela e A Fera”.
O escolhido para a empreitada foi o diretor Bill
Condon que, diante do dilema criativo entre recriar fielmente a animação
(realizando assim um trabalho sem alma) e executar uma obra dotada de sua
própria inspiração e inventividade, saiu-se com uma alternativa sábia e
travessa: “A Bela e A Fera”, o filme, se ampara, sim, na tão elogiada animação
–até porque fãs e apreciadores se ressentiriam se fugisse muito de sua fonte
–mas, ele se baseia também, em muitas de suas pontuações narrativas, na
bem-sucedida adaptação teatral para os palcos da Broadway.
A dica já se acha no prólogo: Diferente dos
vitrais que sugerem o prenúncio da trama na animação, a encenação mostra a
festa onde o príncipe em questão (Dan Stevens, magnífica escolha) rejeita o
pedido de ajuda de uma mendiga para descobrir que ela era uma feiticeira.
Indignada com o desprezo dele por sua
aparência, ela o amaldiçoa: Transforma-o em monstro e todos os súditos de seu
castelo nos móveis que o decoram. Para quebrar tal maldição, somente se ele
conseguir fazer com que alguém apaixone-se por ele, a despeito de sua forma
bestial.
Entra em cena, então, a mocinha Bela (Emma
Watson, que deve ter aceitado este papel musical pelo arrependimento de ter
recusado a proposta para estrelar “La La Land-Cantando Estações”).
Moradora de uma aldeia francesa, Bela é
recebida com estranhamento pelos demais moradores, incomodados por sua
independência, sua articulação e inteligência. Contudo, sua grande beleza
(ainda que Emma não seja tão bela assim quanto o papel pede), não passa
despercebida de Gaston (Luke Evans), o mais bonito e disputado (e arrogante!)
rapagão local, que a quer como esposa de qualquer jeito.
Bela vem a se encontrar com Fera quando o pai
dela, Maurice (Kevin Kline), perde-se numa viagem, indo parar inadvertidamente
no castelo da Fera; e acaba seu prisioneiro.
Mais tarde, ao descobrir as atribulações do
pai, Bela propõe uma troca e, agora, será ela quem Fera terá como prisioneira.
Entretanto, os demais personagens que orbitam
esse par improvável (como são improváveis todos os pares de desenlaces românticos
da ficção) haverão de contribuir para tornar este um romance, entre eles, o
candelabro Lumiére (voz de Ewan McGregor), o relógio Cogsworth (voz de Ian
McKellen, com quem o diretor Condon fez o premiado “Deuses e Monstros”), o bule
de chá Madame Samovar (voz de Emma Thompson) e vários outros.
Ignorando a restrição que a obrigatória
proximidade visual e narrativa para com a animação lhe impõe, o diretor Condon
aproveita as ferramentas técnicas à sua disposição para transformar “A Bela e A
Fera” num espetáculo de cores à exemplo do que foi a própria animação em sua
época. Os recursos digitais, empregados de forma imodesta, podem fascinar
alguns expectadores por sua extravagância e seu espalhafato, e incomodar outros
por sua demasia e gratuidade –e o roteiro de Stephen Chobski (diretor de “As Vantagens de Ser Invisível”, também com Emma Watson, e de “Extraordinário”) não
tem maiores justificativas para seu uso, embora possua o ligeiro mérito de
tentar se afastar das obviedades em relação à animação ao usar de artifícios
mais ou menos perceptíveis como alternância de cenas, a transferência de
determinados diálogos para outros personagens e o acréscimo de prolongamentos
de cena (que ora funciona, ora fica lamentável).
Como é o caso na maioria
dos live-actions da Disney, o melhor meio de apreciar as qualidades deste “A
Bela e A Fera” é desencanar de uma comparação constante com a animação; algo
que só irá desfavorecer e sabotar o próprio filme.
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