Reunir em cena os astros Sandra Bullock e Ryan Reynolds já é, em si, um trunfo comercialmente promissor: Carismáticos, engraçados e certamente atraentes, eles já representam um chamariz para ambos os públicos, masculino e feminino. A partir dessa consciência de escalação, percebemos que é preciso bem pouco para que “A Proposta” funcione. E é bem isso mesmo: O roteiro escrito por Pete Chiarell (roteirista padrão de Hollywood habituado a escrever para grandes e genéricas franquias) segue a fórmula usual das comédias românticas, a direção de Anne Fletcher se contenta em fornecer uma condução fluida às cenas e ocasionalmente lembra de envolver a tudo com uma fotografia de cartão-postal. A trama não tem nada de mais. A produção não tem nada de mais. Entretanto, eles têm Sandra Bullock e Ryan Reynolds em cena, e isso já segura o filme muito bem.
Sandra é Margaret Tate, uma executiva
canadense, ferrenha funcionária de uma editora nova-iorquina de livros, vista
por seus subalternos como uma versão literária da Miranda Prestley de “O Diabo Veste Prada” –a própria chefe infernal em pessoa!
E dentre seus subalternos, nenhum sente mais
essas agruras na pele do que seu assistente Andrew Paxton (Ryan Reynolds),
rapaz que busca, há três anos, galgar os degraus da hierarquia da empresa a fim
de realizar seu sonho de virar editor.
O enredo do filme começa a tomar forma quando o
roteiro pega ligeiramente emprestado o mote de um dos clássicos da comédia
romântica, o maravilhoso “Green Card-Passaporte Para O Amor”: Margaret está
para ser deportada para o Canadá (e, portanto, prestes a perder o emprego)
quando os agentes da imigração detectam elementos irregulares em seu visto. A
única forma de resolver prontamente esse problema é se casando. E eis que, do
alto de sua incapacidade para levar em conta os problemas alheios, Margaret
afirma para todos –seus chefes e seu fiscal de imigração –que está de casamento
marcado com Andrew!!!
A ideia, para ela, soa simples: Eles se casam,
legalizam sua situação em solo americano, uma vez que ao casar o cônjuge
automaticamente adquire cidadania e, depois das coisas resolvidas, divorciam-se
meses depois.
Todavia, há um problema, ou melhor, dois: O
primeiro, é que Andrew não foi devidamente consultado sobre isso –e ele haverá
de descontar os anos de maus tratos de Margaret por conta dessa nova situação.
O segundo, que ninguém, exceto eles dois, devem saber desse arranjo; o que
significa mentir até mesmo para a família dele. Com um fiscal da imigração
(Denis O’Hare, de “A Legião Perdida”) no pé deles –casamentos de fachada são,
muito provavelmente, uma prática comum para se burlar a lei –os dois devem
convencê-lo numa entrevista realizada separadamente de que, como noivos, ambos
conhecem minuciosamente a vida um do outro. Para Andrew a tarefa é simples; tão
habituado ele está com as exigências de ordem pessoal de sua chefe que ele sabe
desde sua preferência de café até as tatuagens que removeu no esteticista,
contudo, para Margaret, Andrew é uma incógnita –alguém que, em três anos de
convívio, ela sequer se preocupou em conhecer.
Para recuperar o tempo perdido e preparar-se
para a entrevista, marcada para a segunda-feira, ela deve passar o fim de
semana com ele, e aprender o máximo que puder. No entanto, Andrew está de
viagem marcada para o Alasca (!?!) onde vive sua família, e onde se darão as
festividades do aniversário de sua avó (a lendária Betty White).
É assim que, sob a necessidade de manter o
disfarce de noivos perante todos –incluindo sua amável mãe (Mary Steenburgen) e
seu desconfiado pai (Graig T. Nelson, de “Poltergeist”) –Andrew e Margaret
arrumam as malas e seguem para o Alasca. Lá, entre algumas confusões e
saias-justas, opera-se a inevitável mágica das comédias românticas: Margaret
revela ser mais adorável e humana do que até então dera a entender, e começa a
se afeiçoar genuinamente por Andrew que, por sua vez, mostra-se alguém mais interessante
do que o mero capacho que ele aparentava ser.
“A Proposta” não é nenhuma obra-prima; muito
dele é esquemático e forçado, inclusive algumas piadinhas fora de hora, e
alguns de seus personagens são tão mal elaborados que chega a dar
constrangimento (caso da ex-namoradinha vivida por Malin Ackerman, claramente
uma personagem que não diz a que veio), além de que Sandra Bullock, linda,
simpática e cativante que é, não consegue convencer ninguém, durante a primeira
metade de filme, da personagem megera, intimidadora e calculista que
supostamente seria. De memorável mesmo, talvez, seja uma breve cena de nudez
que ela (maravilhosa!) compartilha com Ryan Reynolds.
Mas, esses são pecados menores numa comédia
romântica que se encarrega de entregar ao público a dose de romance açucarado e
humor inofensivo e transbordante que as comédias românticas em geral entregam
–e nesse sentido, “A Proposta” é certeiro, até mesmo pelo fato de revelar
abertamente o quanto Sandra e Ryan estão se divertindo a valer em cena com seus
personagens, sejam eles bem escritos, bem dirigidos e bem aprofundados, ou não.
Em tempo (1): Não confundir este filme com o
espetacular faroeste australiano de mesmo título nacional lançado em 2005,
dirigido por John Hillcoat.
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