Um verdadeiro deleite este “Green Card”. Parece
pertencer a uma classe cada vez mais rara de filmes desprovidos de cinismo que,
hoje em dia, acabam rotulados de algo como “excessivamente ingênuos” justamente
pelos cínicos.
Desavisados poderão tomá-lo como uma mera
comédia romântica e, embora o renomado diretor Peter Weir lhe dê indisfarçáveis
características desse gênero, esse é um dado equivocado. “Green Card” é,
primeiramente, uma jóia de roteiro, onde as situações, magnificamente
arranjadas, se sucedem de maneira à evidenciar uma sinergia a interligar com
ironia os feitos e efeitos do mundo, num processo cuja beleza só não passa,
talvez, despercebida dos românticos.
Não fosse isso, ainda seria um prazer constatar
o elenco reunido para o filme. Andie MacDowell é linda, mas de uma beleza mais
clássica, que não abre tanto espaço para conotações sexuais. Isso não aconteceu
nem mesmo quando Steven Sodenbergh a colocou como um dos pivôs de seu drama
humano em “Sexo, Mentiras e Videotape”.
Sendo assim, é um contraponto, no mínimo,
curioso, a presença de Gerard Depardieu como seu par. O francês, contudo,
precisa de muito pouco tempo em cena para desabilitar o fato de que ela é bela
e cativante, enquanto que ele é mundano, exótico e deliciosamente vulgar. Ele
também é um músico e, vindo da França para fazer fortuna nos EUA, depende de um
green card, fornecido aos estrangeiros casados com mulheres norte-americanas.
Ela, por sua vez, precisa de um apartamento com estufa para o cultivo de suas
plantas, dificílimo de achar em Nova York, mas cujo proprietário só aluga para
inquilinos casados. Os dois completos estranhos fazem um arranjo, assim, que
beneficia a ambos. Mas, aos poucos, complicações começam a aparecer, sobretudo,
na tentativa de provar que, por mais improvável que possa parecer, eles são um
casal. Seus encontros e desencontros são mágicos. A exemplo de alguns dos
grandes filmes de romance do cinema, serão suas divergências que irão moldar a
química por meio da qual se descobrirão feitos um para o outro.
Um filme perfeito para se
assistir com o coração aberto.
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