O ator David Dastmalchian esteve em filmes como “Batman-O Cavaleiro das Trevas”, “O Esquadrão Suicida” e “Duna-Parte Um”, agora após anos trabalhando na indústria como coadjuvante, ele finalmente tem a chance de protagonizar um filme, e agarra essa oportunidade com unhas e dentes. “Entrevista Com O Demônio” pode, em princípio, parecer um daqueles found-footage que infestaram o gênero de terror desde que “A Bruxa de Blair” virou um fenômeno, contudo, ele logo aproveita inúmeros recursos de narrativa e linguagem cinematográfica para intrigar e enredar o expectador num trabalho bastante curioso e interessante, ainda que em sua maior parte, ele realmente emule a transmissão de um típico show de atrações televisivo dos anos 1970.
O apresentador Jack Delroy (Dastmalchian) tem
um talk-show noturno chamado “Night Owl”, programa que não mede esforços para
obter bons índices de audiência, mesmo que, vez ou outra, apele ao
sensacionalismo; como trazer para a frente das câmeras até mesmo sua esposa
(Georgina Haig) moribunda de câncer! –ainda assim, Delroy (mantenedor de
suspeitos envolvimentos com uma seita obscura) nunca consegue fazer sua atração
sair do constrangedor segundo lugar. Após uma série de problemas profissionais
(um escândalo envolvendo a descoberta dos tabloides de sua relação com tal
seita) e pessoais (o falecimento da esposa), o “Night Owl” e o próprio Jack
Delroy chegam num momento crucial, na noite de 31 de outubro de 1971, a noite
do Halloween, na qual ele tem a obrigação de fazer seu programa atingir o pico
de audiência, ou perderá para sempre a chance de brilhar na TV. O programa, na
noite em questão, contará com uma série inusitada de convidados: Cristou
(Fayssal Bazzi), um médiun com trejeitos afetados que, por conta disso, encontra
dificuldade de fazer a plateia crer em seus dons sobrenaturais; a Dra. June
Ross-Mitchell (Laura Gordon), uma ex-amante de Jack, especialista em
parapsicologia; Lilly D’Abo (Ingrid Torelli), a aluna dela, alegada vítima de
possessões demoníacas e sobrevivente de um culto suicida; e o extremamente
irritante (mas, enquanto personagem, completamente funcional à narrativa)
Carmichael Haig (Ian Bliss, de “Matrix Reloaded e Revolutions”), um expert em
desvendar charlatanismos, incapaz de crer em qualquer coisa, mesmo quando os
indícios são consideráveis e cabíveis.
É dessa forma que, na alternância em cena de
tais personagens, acompanhamos a progressão do programa, inicialmente, como se
fôssemos expectadores daquele talk-show,
testemunhando ele diretamente de uma tela de TV (durante os ‘intervalos
comerciais’ uma câmera manual em preto & branco assume o ponto de vista,
registrando os bastidores) com o formato found-footage
a simular assim uma atmosfera de realidade que tão bem faz aos expedientes de
terror: Primeiro convidado, Cristou prontamente pressente algo perigoso
pairando no ar naquela noite, e sua reação é dramática; a despeito dela passar
bastante despercebida dos demais, um tanto por conta dos comentários redundantes
de Carmichael. É quando surgem em cena a Dra. Ross-Mitchell junto da jovem
Lilly que as coisas começam a esquentar de verdade –há algo, segundo a Dra. acompanhando
a moça, uma espécie de entidade manifestada durante sua participação no
mal-fadado culto, e essa entidade conhece tanto Delroy quanto sua falecida
esposa.
Em algum momento, os diretores Colin e Cameron
Cairnes, habilmente sabendo manipular as impressões do público ao absorvê-lo
para dentro desse enredo macabro, vão sutilmente abrindo mão do formato found-footage –não mais restringida à
reconstituição de um programa televisivo dos anos 1970, a narrativa agrega
elementos cinematográficos de fato quando o caldo entorna (com acontecimentos
que chegam a flertar corajosamente com a inverossimilhança) e as profundezas
almejadas em seu clímax abordam conotações pessoais e metafísicas que uma mera
câmera de auditório não seria mais capaz de capturar.
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