Em tempos em que Demi Moore é sondada para a ganhar o Oscar de Melhor Atriz pelo surpreendente “A Substância”, vamos voltar numa época em que muitos acreditam que isso era algo impossível de se acontecer, mais precisamente no ano de 1995, quando do lançamento do drama “A Letra Escarlate” que veio acompanhado junto de uma campanha para levá-la ao Oscar. O que terminou resultando em ainda mais chacota em relação aos dotes dramáticos de Demi como atriz –por aqueles anos, ela viu, paralelo ao crescimento de seu status como estrela de cinema, as indicações a si mesma como Pior Atriz do Ano no Framboesa de Ouro se multiplicarem.
É verdade que o filme também não ajuda muito: A
cena inicial (uma reunião de índios para uma espécie de cortejo fúnebre) já
deixa bem claro as propensões do diretor Roland Joffé (que dirigiu “A Missão”,
um hábil retrato do conflito indígena) para inserir mais aventura no texto todo
drama e folhetim extraído do romance literário de Nathaniel Hawthorne (já
adaptado para cinema, inclusive, por Win Wenders, e muito homenageado na
comédia “A Mentira”). Na Nova Inglaterra, um vilarejo na América ocupado por
uma comunidade de imigrantes ingleses recebe entre seus recém-chegados Esther
Prynne (Demi Moore), enviada por seu marido, Roger Prynne, para que, antes de
sua chegada, comece os preparativos para arrumar a casa em que irão viver.
Logo de cara, Esther demonstra iniciativa e
independência que alarmam os mandatários locais, homens religiosos de rígido
código moral para os quais o papel da mulher, em sociedade, deve vir cercado
por regras de opressão. Com o tempo, Esther –que casou-se ainda bem nova, com
um homem mais velho –torna-se amiga do pastor Arthur Dimmesdale (Gary Oldman),
por quem acaba, mais tarde, se apaixonando.
Ator tão talentoso quanto generoso, Oldman já
era calejado em papéis de vilão naquele período (havia feito, além de “Drácula de Bram Stoker”, também “O Profissional” e “O Quinto Elemento”), o que faz de
sua escolha para o papel de galã romântico uma alternativa bastante curiosa –e
um dos poucos lampejos inspirados do filme.
Enamorados um pelo outro, Arthur e Esther têm
uma fortuita noite de amor quando acreditam que o marido de Esther, Roger
(interpretado, à propósito, por Robert Duvall), foi morto num ataque de índios
à sua embarcação. Na verdade, Roger terminou prisioneiro dos selvagens que o
mantêm cativo por um tempo; quando ele, entre um e outro surto de loucura,
começa a absorver alguns de seus costumes.
Quanto à Esther, ela engravida e, quando esse
fato se torna óbvio para a comunidade (evidenciando também o adultério que ela
cometeu), os senhores locais exigem que ela revele a identidade de seu amante,
a fim de enforcá-lo. Esther guarda segredo para poupar a vida de Arthur, mas
acaba vítima das consequências: Nos meses que se seguem, ela é aprisionada
(acaba sendo solta apenas quando, por fim, dá à luz a uma menina, de nome Pearl),
e quando ganha a autorização para voltar para casa e cuidar da filha, ela tem
uma letra ‘A’ escarlate costurada às suas roupas –a indicação e a constante
lembrança de que ela foi adúltera e, por isso, deve sofrer retaliação moral da
comunidade, para onde quer que vá.
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