domingo, 3 de abril de 2016

A Missão

Há uma ressonância dramática na trilha de Maurice Jarre que atravessa todo o filme. É um comentário imbuído de tristeza, cujo requinte épico ele deve ter aprendido com David Lean. E “A Missão” não deixa mesmo de ser isso: Um épico em tintas contemporâneas, que volta sua atenção para elementos até então inéditos, mas que começavam a ser notados: Os colonizadores e o exotismo das paisagens sul-americanas, também explorados em “A Floresta de Esmeraldas” e “Brincando Nos Campos do Senhor”, todos daquela mesma década. Também é um diferencial o senso de observação perspicaz do diretor Roland Joffé, que vinha de uma ampla experiência com documentários, por meio do qual ele insiste em texturas e percepções que agregam realismo à narrativa, ela própria prodigiosa no avanço poderoso e contido da trama.
Nela, acompanhamos o árduo processo de colonização na América do Sul em geral, e no Brasil em particular, em meados do Século XVI, onde as matas brasileiras se tornaram palco de um dramático conflito: De um lado, escravagistas espanhóis que desejam capturar os indígenas ilegalmente e levá-los para serem vendidos na Europa; do outro, os padres catequistas que desejam instalar nas imensas tribos locais suas missões, e doutrinar os nativos com sua religião católica. No final, ambos de qualquer maneira terminaram por esmagar sua cultura e crenças originárias.
É a trajetória de Rodrigo Mendonza (um luminoso Robert De Niro), inicialmente um mercador de escravos e, mais tarde, após uma tragédia pessoal, um voluntário jesuíta, que expõe as violentas implicações da tomada praticamente hostil dos europeus às regiões da América do Sul, bem como seu conflito de interesses, o que acaba trazendo-lhes a guerra.
Além da produção brilhante que é, “A Missão” permite conferir o auge artístico de Roland Joffé, um diretor que, no meio da década de 1980 prometia ser uma das grandes revelações do cinema, mas que, após dois belíssimos trabalhos (este e o também tocante “Os Gritos do Silêncio”) nunca mais foi o mesmo artesão.
É, portanto, seu legado, este filme longo, solene e lindo.

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