Há uma ressonância dramática na trilha de Maurice
Jarre que atravessa todo o filme. É um comentário imbuído de tristeza, cujo
requinte épico ele deve ter aprendido com David Lean. E “A Missão” não deixa
mesmo de ser isso: Um épico em tintas contemporâneas, que volta sua atenção
para elementos até então inéditos, mas que começavam a ser notados: Os
colonizadores e o exotismo das paisagens sul-americanas, também explorados em
“A Floresta de Esmeraldas” e “Brincando Nos Campos do Senhor”, todos daquela
mesma década. Também é um diferencial o senso de observação perspicaz do
diretor Roland Joffé, que vinha de uma ampla experiência com documentários, por
meio do qual ele insiste em texturas e percepções que agregam realismo à
narrativa, ela própria prodigiosa no avanço poderoso e contido da trama.
Nela, acompanhamos o árduo processo de
colonização na América do Sul em geral, e no Brasil em particular, em meados do
Século XVI, onde as matas brasileiras se tornaram palco de um dramático
conflito: De um lado, escravagistas espanhóis que desejam capturar os indígenas
ilegalmente e levá-los para serem vendidos na Europa; do outro, os padres
catequistas que desejam instalar nas imensas tribos locais suas missões, e
doutrinar os nativos com sua religião católica. No final, ambos de qualquer
maneira terminaram por esmagar sua cultura e crenças originárias.
É a trajetória de Rodrigo Mendonza (um luminoso
Robert De Niro), inicialmente um mercador de escravos e, mais tarde, após uma
tragédia pessoal, um voluntário jesuíta, que expõe as violentas implicações da
tomada praticamente hostil dos europeus às regiões da América do Sul, bem como
seu conflito de interesses, o que acaba trazendo-lhes a guerra.
Além da produção brilhante que é, “A Missão”
permite conferir o auge artístico de Roland Joffé, um diretor que, no meio da
década de 1980 prometia ser uma das grandes revelações do cinema, mas que, após
dois belíssimos trabalhos (este e o também tocante “Os Gritos do Silêncio”)
nunca mais foi o mesmo artesão.
É, portanto, seu legado,
este filme longo, solene e lindo.
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