terça-feira, 2 de setembro de 2025

Uma Equipe Muito Especial


 É até inconcebível hoje ver Tom Hanks como coadjuvante das não tão estelares Geena Davis e Lori Petty (de “Caçadores de Emoção”), menos ainda quando percebemos que ele é pouco mais que o alívio cômico do filme, mas esse é só um dos indicativos que mostram que “Uma Equipe Muito Especial” –ou "A League of Their Own", seu título original –pertence a outros tempos, afinal, Geena Davis havia acabado de fazer “Thelma & Louise” (e de ser indicada ao Oscar por isso!) enquanto que Madonna (também presente no elenco) estava recém-saída de “Dick Tracy”.

Dirigido pela saudosa Penny Marshall (que havia dirigido Hanks em “Quero Ser Grande”), o filme é consequência direta da indicação ao Oscar de Melhor Filme para “Tempo de Despertar”, em 1990, o que deu à Penny a capacidade para viabilizar o projeto que quisesse.

E o projeto que ela quis diz muito de suas inclinações morais e pessoais como contadora de histórias: A trajetória dos membros da Liga Americana de Beisebol Profissional Feminino, a AAGPBL, fundada por Philip K. Wrigley em 1943 (numa forma de não interromper os campeonatos de beisebol, tão amados pelo público norte-americano, e suprir a ausência de jogadores masculinos que estavam todos lutando na Segunda Guerra Mundial) e mantida até 1954. No filme, o fundador da Liga Feminina chama-se Walter Harvey (e é interpretado por Garry Marshall, diretor de “Uma Linda Mulher” e irmão da diretora Penny), personagem fictício criado a partir do próprio Philip K. Wrigley –é ele quem escala Ira Lowenstein (David Strathairn) para o trabalho de Relações Públicas, e chama o olheiro Ernie Capadino (Jon Lovitz) para percorrer os EUA atrás de habilidosas jogadoras.

Os testes logo revelam talentos promissores no beisebol comos as irmãs Dottie Hinson (Geena) e Kit Keller (Lori), a batedora bidestra Maria Hooch (Megan Cavanagh), a meia-campista e ex-dançarina Mae Mordabito (Madonna), a terceira defensora Doris Murphy (Rosie O’Donell), e outras. Todas seguem, de suas moradas (Dottie e Kit eram do Oregon; enquanto Mae e Doris eram de Nova York) para Chicago e, de lá, para as turnês de jogos que compõem a temporada 1943.

O personagem de Hanks é o técnico rabugento, decadente e alcóolatra Jimmy Dugan, que encara com inicial relutância a tarefa de dirigir o recém-formado time Rockford Peaches, onde todas as protagonista jogam. Pouco a pouco, o esmero e o talento das jogadoras vai não apenas conquistando a aprovação do técnico Dugan como também obtendo inesperado sucesso junto ao público que passa a acompanhar de modo cada vez mais numeroso as disputas nos gramados.

É curiosa a questão que o filme levanta em seu clímax: Na partida final, quando o Rockford Peaches encara o seu rival Racine Belles (time para o qual, de um ponto em diante da trama a descontente e desiludida Kit vai jogar, deixando a irmã Dottie no time adversário), a jogada decisiva do jogo envolve justamente as duas irmãs, Dottie e Kit, e sua constante rivalidade –um mote que atravessa todo o filme, justaposto também com o grande amor que as une. Dottie era sempre a melhor, a mais talentosa, a mais hábil e, como mulher, não tinha dificuldades em sobressair-se como a mais bela e a mais elegante, características que só ressaltavam a insegurança e a vulnerabilidade de Kit. Nesse acerto de contas final entre as duas é apenas sugerido na narrativa que, talvez, tenha sido Dottie quem terminou deixando que sua irmã (e, por consequência, o time dela) vencesse aquela partida.

Amparado em diversos expedientes básicos dos filmes esportivos –desde o técnico implicante até a gradual aceitação do time pelo público, passando pelos conflitos ora engraçados, ora dramáticos, e culminando no emocionante clímax da partida final –"A League of Their Own" traz esses elementos tão bem dispostos e conduzidos pela diretora Marshall que se torna impossível não se emocionar ou não torcer pelas personagens, em sua busca por aceitação e reconhecimento.

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