É até inconcebível hoje ver Tom Hanks como coadjuvante das não tão estelares Geena Davis e Lori Petty (de “Caçadores de Emoção”), menos ainda quando percebemos que ele é pouco mais que o alívio cômico do filme, mas esse é só um dos indicativos que mostram que “Uma Equipe Muito Especial” –ou "A League of Their Own", seu título original –pertence a outros tempos, afinal, Geena Davis havia acabado de fazer “Thelma & Louise” (e de ser indicada ao Oscar por isso!) enquanto que Madonna (também presente no elenco) estava recém-saída de “Dick Tracy”.
Dirigido pela saudosa Penny Marshall (que havia
dirigido Hanks em “Quero Ser Grande”), o filme é consequência direta da
indicação ao Oscar de Melhor Filme para “Tempo de Despertar”, em 1990, o que
deu à Penny a capacidade para viabilizar o projeto que quisesse.
E o projeto que ela quis diz muito de suas
inclinações morais e pessoais como contadora de histórias: A trajetória dos
membros da Liga Americana de Beisebol Profissional Feminino, a AAGPBL, fundada
por Philip K. Wrigley em 1943 (numa forma de não interromper os campeonatos de
beisebol, tão amados pelo público norte-americano, e suprir a ausência de
jogadores masculinos que estavam todos lutando na Segunda Guerra Mundial) e
mantida até 1954. No filme, o fundador da Liga Feminina chama-se Walter Harvey
(e é interpretado por Garry Marshall, diretor de “Uma Linda Mulher” e irmão da
diretora Penny), personagem fictício criado a partir do próprio Philip K.
Wrigley –é ele quem escala Ira Lowenstein (David Strathairn) para o trabalho de
Relações Públicas, e chama o olheiro Ernie Capadino (Jon Lovitz) para percorrer
os EUA atrás de habilidosas jogadoras.
Os testes logo revelam talentos promissores no
beisebol comos as irmãs Dottie Hinson (Geena) e Kit Keller (Lori), a batedora
bidestra Maria Hooch (Megan Cavanagh), a meia-campista e ex-dançarina Mae
Mordabito (Madonna), a terceira defensora Doris Murphy (Rosie O’Donell), e
outras. Todas seguem, de suas moradas (Dottie e Kit eram do Oregon; enquanto Mae
e Doris eram de Nova York) para Chicago e, de lá, para as turnês de jogos que
compõem a temporada 1943.
O personagem de Hanks é o técnico rabugento,
decadente e alcóolatra Jimmy Dugan, que encara com inicial relutância a tarefa
de dirigir o recém-formado time Rockford Peaches, onde todas as protagonista
jogam. Pouco a pouco, o esmero e o talento das jogadoras vai não apenas
conquistando a aprovação do técnico Dugan como também obtendo inesperado
sucesso junto ao público que passa a acompanhar de modo cada vez mais numeroso
as disputas nos gramados.
É curiosa a questão que o filme levanta em seu
clímax: Na partida final, quando o Rockford Peaches encara o seu rival Racine
Belles (time para o qual, de um ponto em diante da trama a descontente e
desiludida Kit vai jogar, deixando a irmã Dottie no time adversário), a jogada
decisiva do jogo envolve justamente as duas irmãs, Dottie e Kit, e sua
constante rivalidade –um mote que atravessa todo o filme, justaposto também com
o grande amor que as une. Dottie era sempre a melhor, a mais talentosa, a mais
hábil e, como mulher, não tinha dificuldades em sobressair-se como a mais bela
e a mais elegante, características que só ressaltavam a insegurança e a
vulnerabilidade de Kit. Nesse acerto de contas final entre as duas é apenas
sugerido na narrativa que, talvez, tenha sido Dottie quem terminou deixando que
sua irmã (e, por consequência, o time dela) vencesse aquela partida.
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