Um dos melhores filmes de Ridley Scott (o quê
não é pouco, se lembrarmos que esse é o mesmo diretor que nos deu “Blade
Runner-O Caçador de Andróides” e “Alien”), e também um dos mais sensacionais,
expressivos e competentes libelos do feminismo, lançado numa época em que esse
tipo de manifestação, fosse numa obra de arte, fosse num filme comercial, era
considerado muito incomum. Não apenas isso, o trabalho de Scott conseguiu
também o feito improvável de ter suas duas protagonistas (Suzan Saradon e Geena
Davis, ambas geniais) indicadas ao mesmo Oscar de Melhor Atriz em 1991 –vencido
por Jodie Foster, por “O Silêncio dos Inocentes”; o filme de Scott acabou
vitorioso na categoria de Melhor Roteiro Original para Callie Khouri.
Em todos os aspectos possíveis, “Thelma &
Louise” é uma realização extraordinária.
Thelma Yvonne Dickinson (Geena, absolutamente
brilhante em sua evolução de jovem vulnerável à mulher confiante) e Louise
Elizabeth Sawyer (Suzan, esplêndida em suas nuances dramáticas, engraçadas e
tensas) são amigas de longa data: A primeira amarga uma vida de dona de casa ao
lado de um marido rabugento e negligente (Christopher McDonald), e a segunda
vive à beira da insatisfação com seu emprego de garçonete e seu namoro pouco
frutífero com um saxofonista (Michael Madsen). Dando um intervalo ocasional
nessa vida medíocre, as duas saem para uma inocente viagem de fim de semana,
que logo se converte numa situação mais aflitiva: Durante a parada num bar de
beira de estrada, Thelma é quase estuprada por um caminhoneiro. Louise impede o
ato, mas não consegue evitar de matá-lo com um tiro à queima-roupa. Agora, as
duas são fugitivas da lei em potencial.
A possibilidade se torna fato depois que, ao
terem todo seu dinheiro roubado por um vigarista caroneiro (estréia de Brad
Pitt no cinemão), elas enveredam, por fim, ao crime.
Deste ponto em diante, o filme de Scott se
torna uma espécie de libelo feminista –quando esse tipo de movimento
representativo ainda estava longe de virar moda na cultura pop –e as
sensacionais protagonistas incorporam versões femininas pontuais e
caprichosamente remodeladas de arquétipos cinematográficos normalmente
relacionados aos homens: Thelma engendrando uma atrevida tentativa de assalto à
um posto de gasolina, numa cena que remete ao clássico primeiro assalto
registrado em “Bonnie & Clyde-Uma Rajada de Balas”, ou a arrepiante seqüência
final quando, encurraladas, as duas heroínas acabam reproduzindo o mesmo
desfecho icônico de “Butch Cassidy”, naquela que deve ser uma das grandes cenas
de toda a filmografia de Ridley Scott –e, meu Deus, que trilha sonora
espetacular é aquela!
Um dos mais fenomenais
filmes a retratar as mulheres no cinema, munido não de discursos planfetários
ou ideológicos, mas, de pura e simples maestria.
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