segunda-feira, 2 de novembro de 2015

Elefante

Cinema independente sem concessões esta obra do diretor Gus Van Sant. É cinema norte-americano absorvendo os maneirismos do cinema europeu. 
Van Sant segue seus personagens na tentativa, às vezes nebulosa, de decifrar a tragédia de Columbine, onde alunos, como se sabe, metralharam colegas e professores. A câmera às suas nucas registra suas trajetórias mostrando a individualidade de cada um e também (o que talvez seja mais relevante) sua pluralidade, como vistos de longe, eles são os mesmos estudantes, os mesmos adolescentes que podem habitar qualquer escola. 
Os destinos dessa fauna e suas entrecruzadas linhas de destino próprio parecem despertar um interesse enorme em Van Sant, e ele distorce o tempo, o ritmo e o espaço na sua ânsia de acompanhá-los. É um dia normal numa escola normal. Mas, Van Sant imprime o senso de fatalidade imediatamente nas primeiras cenas. A narrativa que em princípio evoca um tom bucólico, o silêncio a envolver os diálogos juvenis como um éter, sobretudo nas tomadas intermediárias de um céu azul dando lugar a uma escuridão de tempestade são claras evidências de que algo muito errado está para acontecer. 
Não é intenção de Gus Van Sant usar expedientes, nem jogar um filme de suspense para o expectador. O que lhe interessa são os motivos que levam dois jovens a cometer as atrocidades que surgem inevitáveis no segundo ato do filme. Talvez, não exatamente os motivos, já que por definição, este é um crime injustificável. É na busca do significado, e no inevitável fracasso em encontrá-lo, que está o cerne dramático do filme. Dividido por intertítulos que recebem o nome dos personagens, o filme acompanha um a um, só para afinal, mostrar ao expectador que, no fluxo infinito das coisas, eles têm a grandeza de pessoas comuns, e a pequenez de serem próximas vítimas de uma tragédia por vir, destinos que serão interrompidos pelo estalar de gatilhos. 
Dentro desse painel, Van Sant se permite horrorizar com atitudes banais, mas que contêm a crueldade, com os outros e consigo próprio, que pode ser a chave para que, no fim, leva dois desses adolescentes a metralhar colegas e professores: A cena do jovem perdido que tem que tomar conta do próprio pai alcoolizado, ou das três patricinhas que lancham para vomitar propositadamente a comida no momento seguinte. Todas contêm um registro daquela situação não raro insuportável de ser jovem demais para ser levado à sério, e velho o bastante para almejar fazer a diferença na sociedade. Uma situação que resulta num estado emocional de ebuliente frustração e incapacidade, cuja pior das conseqüências talvez seja o caos que vemos se derramar à tela no trecho final. Mas, Van Sant aborda tudo sem estabelecer julgamentos. 
Os personagens e suas idiossincrasias expostos fazem parte do quadro indecifrável que ele expõe ao expectador. Mas, ele não parece nem mesmo requisitar sua autoria.

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