Blockbusters de uma maneira geral me aborrecem.
É claro que existem inúmeras exceções, mas nada se comparação àquela sensação
de descoberta, quando aparece um filme pequeno obscuro, absolutamente
desconhecido do grande público, e que revela-se, senão uma obra-prima, um
trabalho notável.
É mais ou menos nessa categoria que se encaixa
“O Jardim de Cimento”, uma obra muito interessante. Delicada, inclusive no modo
com que toca no controverso tema do incesto.
É uma narrativa idílica, quase lúdica, onde as
crianças de uma família criam um microcosmos para elas mesmas após a morte do
pai, e em seguida, da mãe.
O casal de irmãos mais velhos passam a cuidar
dos irmãos pequenos, e desse ímpeto inocente em desempenhar um papel (o de pai
e mãe), o roteiro estuda os novos sentimentos que afloram, bem como novos
conceitos que parecem se refazer à parte do restante do mundo: Um exemplo é a
vontade natural que surge no irmão mais novo, em vestir-se de menina, o que é
visto com naturalidade pelos outros.
A narrativa, contudo, à sua maneira
discretamente incisiva, busca desenvolver mesmo a relação entre o casal mais
velho. Curioso notar que o menino (Andrew Robertson) e a menina têm
características andróginas. Ela, com corte de cabelo bem curto, é interpretada
por uma ainda novinha Charlotte Gainsburgh (filha de Serge Gainsburgh e da
atriz Jane Birkin), cuja audácia que já demonstra aqui, seria exercida com
muito mais freqüência na vida adulta, em suas constantes colaborações com Lars
Von Trier.
O filme, à propósito, é dirigido pelo tio dela,
Andrew Birkin, o que já confere às impressões acerca do filme, uma aura toda
inusitada: Apesar de todos os controversos revezes, este é um trabalho de
família!
A consumação do incesto entre os dois irmãos é
mostrada de forma corajosa, um exemplo de engajo notável com a história que
busca contar, embora nunca seja ofensivo nem exacerbado.
Não é o mais fenomenal dos
estudos de ousadias comportamentais, nem uma adaptação brilhante do livro de
Ian McEwan, mas fica ao fim a memória de uma curiosa realização.
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