domingo, 20 de dezembro de 2015

Crash - Estranhos Prazeres


Um filme de David Cronenberg costuma ser inconfundível. 
Tomemos “Crash-Estranhos Prazeres” como exemplo: Lá estão os corpos humanos deformados por ocorrências ambientes e que parecem exercer um certo fetiche ao olhar da câmera; está também a narrativa cadenciada, pautada pelos enquadramentos distanciados e frios que criam um clima quase atemporal; e a profunda análise das aptidões fisiológicas do ser humano, definidas, em grande parte pela própria perversão que jaz em sua psique.
Na trama, um indivíduo em princípio comum e urbano (James Spader), sofre um acidente de carro que lhe estraçalha a perna. Já no hospital, ele toma contato com um médico (Elias Koteas) profundamente interessado (fascinado até) com as suas sequelas físicas do acidente, e se torna amante da mulher (Holly Hunter) sobrevivente do outro carro (cujo marido morreu no acidente) a despeito do vida sexual ativa que leva com sua própria mulher (a sensual Deborah Kara Unger).
Logo, essa obsessão por catástrofes automobilísticas, surgida após a experiência do acidente, irá se manifestar numa procura por grupos obscuros (dos quais o médico faz parte) que reproduzem acidentes de carro reais como combustível de seu fascínio.
Cronenberg registra as nuances desses comportamentos com estilizado simbolismo, como lhe é inerente como realizador, impondo inclusive, a trilha sonora de Howard Shore como uma recordação  vivaz dos elementos que nunca escapam ao trauma dos acidentados: os sons que remetem às colisões de carro. Embora seja sempre óbvio que não interessa a Cronenberg explorar o drama humano de uma tragédia: Seu real interesse parece estar na gênese da sexualidade distorcida que nasce a partir disso, e passa a definir seus personagens desde então, mesmo aqueles que foram atingidos apenas indiretamente pelo exaspero da experiência, como a esposa interpretada por Deborah.
"Crash" é, portanto, um dos grandes exercícios de estilo que Cronenberg entregou nos anos 1990, uma obra nascida de uma inqueitação profunda, e de uma visão no mínimo singular da condição humana.

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