Era improvável que este filme, dirigido pelo
sempre desigual Guy Ritchie, resultasse frustrante.
Ao menos, no que diz respeito ao conformismo
narrativo, que passa longe dos trabalhos do diretor. Nas bilheterias, pelo que
se soube, ele não fez o sucesso esperado, o que é uma pena já que o filme é
puro deleite cinematográfico: O resgate que Guy Ritchie promove da premissa da
série de TV setentista, agora lançada em cinema, é sensacional, mais instigante
e empolgante que seu bom trabalho nos dois "Sherlock Holmes"
protagonizados por Robert Downey Jr.
Na década de 1950, o Auge da Guerra Fria, uma
inusitada circunstância obriga dois espiões à beira do antagonismo (o americano
Napoleon Solo e o russo Ylia Kuryakin) a trabalhar lado a lado, enquanto buscam
achar um cientista especializado em energia nuclear a fim de deter uma
conspiração que visa a construção de uma bomba atômica. Para ajudá-los, ou não,
é requisitada a filha dele, a bela Gaby, diretamente das sombras da cortina de
ferro.
Espertamente, Ritchie preserva todas as
características que mantinham o charme e a curiosidade embutidos na proposta da
série. E a reconstituição de época que a produção proporciona é das mais bem
acabadas do ano, além da evidente delícia de uma trilha sonora que aproveita a
totalidade da diversificada trilha sonora do período e que é usada com fins
narrativos como só mestres como Guy Ritchie o sabem fazer.
Mais do que isso, há toda uma concepção cênica
que se mantem coerente em todo o filme. Com eventos transcorrendo em paralelo,
e relatados das maneiras mais viscerais e criativas pelo diretor.
Na dupla protagonista, o Napoleon Solo de Henry
Cavill ("O Homem de Aço") se revela mais carismático do que o sisudo
Ylia Kuryakin de Armie Hammer ("A Rede Social"), mas talvez esse
fosse mesmo o objetivo, visto que parece ser a própria natureza dos
personagens, mas há que se destacar o quanto é fantástica a presença de Alicia
Vikander (do magnífico "Ex-Machina").
Como na maioria dos filmes em que aparece, a
jovem atriz dinamarquesa surge em cena já surpreendendo com seu aspecto miúdo,
sua voz rouca e sensual. Diminuta perto dos dois grandalhões. Mas, bastam
poucas cenas para que ela se imponha no filme e revele a força de sua atuação:
Essa menina, acreditem, vai longe!
"O Agente da U.N.C.L.E." é, em todos
os seus quesitos, um trabalho de plena satisfação, onde temos a oportunidade de
ver um grande e indomado diretor se expressar na suntuosidade do cinema comercial.
Maravilhas como essa são
cada vez mais raras.
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