terça-feira, 15 de dezembro de 2015

O Trem de Zhou Yu

Gong Li é hipnótica no papel de Zhou Yu. Quase sempre sua beleza parece ser um artifício através do qual vislumbramos a mais perene ilustração da tristeza. E quando beleza e tristeza caminham juntas, é impossível evitar a concretização de um romance. Daqueles avassaladores, que arrebatam não só as duas pessoas envolvidas, mas também o voyeur, o expectador que acompanha tudo atento. Romance este que, após esse arrebatamento, revela-se tão mais dolorido conforme as idealizações vão sendo soterradas pelas impossibilidades da vida real, pelas vicissitudes que nos obrigam a escolhas, por todo o incontornável que vem de ônus, e que por vezes ignoramos.
Existe em "O Trem de Zhou Yu" seus próprios voyeurs, e que vêem a ser, em princípio, Zhang, o rapaz que acompanha a rotina de Zhou em locomover-se para a província de Chongyang, onde ela encontra (ele não sabe) o homem que ama, Chen.
Embora dedicada a esse amor, Zhou não é feliz; Chen é poeta e, em sua percepção abstrata, o amor (e o relacionamento que vem com ele) são conveniências a serem questionadas. E, em última instância, todas essas implicações, para o bem e para o mal, não são mais do que combustível para sua poesia.
Para Zhou, portanto, Chen diz que a ama, mas a usa, mantendo-a em segundo plano. Como a própria Zhou aprenderá a usar, a medida que a relação entre ela e Zhang se aprofundar, por assim dizer.
O outro voyeur da história de Zhou vem a ser Xiu, uma jovem que segue seus passos, literalmente (ela parece ir atrás de Zhou em todo o lugar), figurativamente (suas atitudes espelham as que Zhou também toma), e existencialmente (Xiu é, também ela, interpretada por Gong Li).
Xiu assim, ama Zhou a ponto de querer ser ela própria, em toda sua infelicidade.
O amor é, portanto, neste meticuloso e circunspecto trabalho do diretor Zhou Sun, um elemento sujeito a todas as transfigurações proporcionadas pela trajetória humana. O trem, que conduz sua protagonista, e a leva a cruzar-se com todas essas almas tão perdidas quanto ela, é assim sendo, uma metáfora da inevitabilidade da vida, dos sentimentos e dos relacionamentos, fadados a chocar-se contra todas as intempéries do cotidiano, numa rota da qual não há desvio.

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