Gong Li é hipnótica no papel de Zhou Yu. Quase
sempre sua beleza parece ser um artifício através do qual vislumbramos a mais
perene ilustração da tristeza. E quando beleza e tristeza caminham juntas, é
impossível evitar a concretização de um romance. Daqueles avassaladores, que
arrebatam não só as duas pessoas envolvidas, mas também o voyeur, o expectador
que acompanha tudo atento. Romance este que, após esse arrebatamento, revela-se
tão mais dolorido conforme as idealizações vão sendo soterradas pelas
impossibilidades da vida real, pelas vicissitudes que nos obrigam a escolhas,
por todo o incontornável que vem de ônus, e que por vezes ignoramos.
Existe em "O Trem de Zhou Yu" seus
próprios voyeurs, e que vêem a ser, em princípio, Zhang, o rapaz que acompanha
a rotina de Zhou em locomover-se para a província de Chongyang, onde ela
encontra (ele não sabe) o homem que ama, Chen.
Embora dedicada a esse amor, Zhou não é feliz;
Chen é poeta e, em sua percepção abstrata, o amor (e o relacionamento que vem
com ele) são conveniências a serem questionadas. E, em última instância, todas
essas implicações, para o bem e para o mal, não são mais do que combustível
para sua poesia.
Para Zhou, portanto, Chen diz que a ama, mas a
usa, mantendo-a em segundo plano. Como a própria Zhou aprenderá a usar, a
medida que a relação entre ela e Zhang se aprofundar, por assim dizer.
O outro voyeur da história de Zhou vem a ser
Xiu, uma jovem que segue seus passos, literalmente (ela parece ir atrás de Zhou
em todo o lugar), figurativamente (suas atitudes espelham as que Zhou também
toma), e existencialmente (Xiu é, também ela, interpretada por Gong Li).
Xiu assim, ama Zhou a ponto de querer ser ela
própria, em toda sua infelicidade.
O amor é, portanto, neste
meticuloso e circunspecto trabalho do diretor Zhou Sun, um elemento sujeito a
todas as transfigurações proporcionadas pela trajetória humana. O trem, que
conduz sua protagonista, e a leva a cruzar-se com todas essas almas tão
perdidas quanto ela, é assim sendo, uma metáfora da inevitabilidade da vida,
dos sentimentos e dos relacionamentos, fadados a chocar-se contra todas as
intempéries do cotidiano, numa rota da qual não há desvio.
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