O próprio Sydney Pollack parecia ser sempre o
primeiro a desdenhar de seu imenso talento como cineasta. Em seus últimos anos
de vida, ele preferiu a comodidade das participações como ator em produções de
Hollywood (como a comédia “O Melhor Amigo da Noiva”), do que as atribulações
normalmente exigidas pelo cargo de diretor.
Está certo que a qualidade e a produtividade de
Pollack como autor já havia diminuído muito, mas ele fez muita falta. Um dos
nomes surgidos em algum momento do movimento da Nova Hollywood, Pollack era
versátil e eclético, trabalhando com uma profusão de gêneros distintos ao mesmo
tempo que mantinha um estilo bastante próprio em face do padrão dos estúdios
(cujo declínio criativo, é sempre bom lembrar, começa naqueles tempos de 1960 e
1970).
Ele fez filmes memoráveis, como o maravilhoso
“Tootsie”; o audacioso thriller “Os Três Dias do Condor”; o notável “Operação
Yakuza”; o agridoce “Nosso Amor de Ontem”; obras carregadas de revisionismo, o
faroeste “Mais Forte Que A Vingança”, e até ganhou um Oscar (em 1985, pela não
tão excelente “Entre Dois Amores”). Mas, entre seus melhores trabalhos, não há
quem duvide que esteja “A Noite dos Desesperados”.
O olhar intrínseco e pragmático de Sydney
Pollack (muito apropriado àquela Nova Hollywood) nos leva para a Califórnia de
meados da década de 1930, à refletir todo o desconforto e a sensação de
pessimismo perene que os EUA experimentavam após a Grande Depressão.
Esse é o cenário onde inicia-se uma maratona
cruel: Vários casais –todos desesperados pelo prêmio em dinheiro –participam de
uma disputa de dança transcorrida e acompanhada por dias a fio, na qual o casal
vencedor será o último a restar em pé.
Para tentar a sorte, cruzam-se os personagens
de Jane Fonda (bela, áspera e magnífica) e Michael Sarrazin (cuja atuação cheia
de ingenuidade reflete algumas enganosas expectativas de quem vai ver o filme),
no que inicialmente parece ser um encontro que pode desembocar em romance.
Ledo engano: Não é para
isso que Sydney Pollack capricha tanto em sua narrativa; uma a uma, as
concepções e convenções do público para com os personagens e a história vão
sendo subvertidas, até que fique bem claro o drama humano, poderoso, amargo, e
por que não, magistral, que Pollack almejava conceber.
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