quarta-feira, 4 de maio de 2016

Closer - Perto Demais

As verdades cruéis, aquelas que normalmente homens e mulheres dizem uns aos outros no ponto crítico do esfacelamento de uma relação, são o combustível que ironicamente abastece a poética prosa do roteirista Patrick Marber em “Closer-Perto Demais”.
Esta é uma obra que se debruça sobre as dinâmicas dos relacionamentos a dois. E como todo grande trabalho, há nele uma auto-consciência de tudo o que faz –e tudo o que não faz –um filme ser memorável aos olhos da platéia: Interessa ao roteiro de Marber e à refinadamente cirúrgica direção do grande Mike Nichols somente os momentos em que tais relacionamentos se iniciam e se extinguem. Todo o tempo que transcorre entre esses dois extremos –seja ele curto ou longo –é ignorado pela narrativa por meio de uma sutil, incisiva e impiedosa edição.
Quando “Closer” começa, somos assim introduzidos, ao som da hipnótica The Blower’s Daughter, de Damien Rice, à norte-americana, igualmente hipnótica, Jane (Natalie Portman). O fascínio que Jane desperta não é um acaso: No contracampo de sua aparição está, também ele reagindo à sua descoberta, o jovem inglês Daniel (Jude Law).
O diretor Nichols encontra uma tradução cênica perfeita para o registro de uma conexão emocional que parece nascer. E como foi dito lá em cima, o tempo avança para mostrar as iminentes divergências entre os dois, na forma da fotógrafa Anna, interpretada por Julia Roberts. Daniel flerta com ela que, embora recíproca às suas investidas, casa-se com o cirurgião Larry (Clive Owen, a última ponta deste quadrado amoroso composto de intérpretes espetaculares). Ainda assim, Daniel e Anna tornam-se amantes, o quê leva o casamento dela com Larry ao divórcio.
Uma vez separados, ele elabora um estratagema para recuperá-la e desmoralizar Daniel.
Último grande trabalho do saudoso diretor Mike Nichols (realizador de obras tão admiráveis quanto díspares, como “A Primeira Noite de Um Homem”, “Ardil 22”, “Quem Tem Medo de Virginia Wolf?” e “Uma Secretária de Futuro”), “Closer” reflete sua paixão pelo teatro (em momento algum a narrativa adquire o peso e o tédio que se imagina ter uma adaptação dos palcos), e pelos atores (o elenco, restrito e impecável, é um dos brilhos do filme, com destaque para Natalie Portman e Clive Owen) valendo-se desses méritos superlativos pra criar esta pungente análise da degradação de valores ante a deterioração dos relacionamentos modernos.

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