terça-feira, 3 de maio de 2016

Campo dos Sonhos

“People will can!” essas três palavras (cuja tradução para o português não chega nem perto da força emocional com que são ditas pelo elenco) fazem parte do amplo leque de elementos que tornam este filme um objeto de culto por seus apreciadores.
Em 1989, quando chegou aos cinemas a lúdica e insólita história do fazendeiro (Kevin Costner) que arrisca tudo para atender a uma voz misteriosa e constrói um campo de beisebol no meio de uma plantação de milho, para então receber ocasionais ‘visitas’ dos fantasmas de célebres jogadores de beisebol do passado, este trabalho foi recebido como uma bela reafirmação, muito bem conduzida pela sensibilidade do diretor Phil Aden Robinson, do modo de vida americano, o quê o cinema hollywoodiano volta e meia gosta de fazer. O tempo, contudo, coloca todas as coisas em uma perspectiva genuína, e “Campo dos Sonhos”, com o passar dos anos passou a ser visto como a obra singular que é.
Os valores, tão norte-americanos, materializados na paradisíaca visão da fazenda e seus campos extensos e amarelos de milho, estão lá, como também está Kevin Costner, ator que, por muito tempo, foi referência para esse tipo de associação ao ideal americano (não por acaso, no ano seguinte, chegaria aos cinemas o filme que o consagrou junto ao Oscar, o faroeste de tintas ecológicas e pacifistas “Dança Com Lobos”).
Um olhar mais atento pode notar, porém, que “Campo dos Sonhos” tem muito mais que isso: Lá está, também, uma das últimas atuações do maravilhoso Burt Lancaster (à medida que foi envelhecendo, suas aparições em filmes foram ficando cada vez mais escassas). Ele está enternecedor no papel do velho médico cujo objetivo de vida o afastou de seus sonhos, mas que terá uma nova chance justamente com a intervenção de Costner, e de muito da maravilhosamente pouco explicada magia que permeia todo o filme.
Lá, também está James Earl Jones e seu vozeirão, carrancudo de início, num personagem que me lembrou um bocado o escritor J.D. Salinger de “O Apanhador No Campo de Centeio”, mas que vai se desnudando como ser humano ao longo da trama, terminando por ser uma das presenças mais emocionantes do filme.
Mas, talvez, o mais brilhante de tudo seja mesmo a direção de Aden Robinson (nos últimos anos, ele tem se dedicado mais à TV, onde dirigiu-se episódios para a minissérie “Band Of Brothers”, por exemplo), que consegue criar um clima mágico e lírico, ao mesmo tempo dosado com certa subversão, mas que jamais deixa de encantar o expectador.
Ao fim de “Campo dos Sonhos” somos deixados com uma sensação de bem-estar, de otimismo e de gratidão, por um filme tão maravilhoso ter chegado até nós.

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