quinta-feira, 12 de maio de 2016

O Senhor das Moscas 1963 e 1990

Eu vi duas versões do inquisitivo livro de Willian Golding até hoje; não sei se existem outras. Cada uma tem seus méritos, mas minha predileta é a versão de 1963, em preto e branco.
A história de ambas não ousa alterar muito do que conta o livro: Náufragos em um acidente aéreo, um grupo numeroso de garotos, alunos de uma academia militar devem aguardar resgate em uma ilha desabitada. Sem a presença de adultos por perto, eles elaboram uma série de regras a fim de conviverem com alguma harmonia, mas logo surgem atritos que os dividem em grupos, gerados, sobretudo para animosidade entre dois pequenos líderes de índoles opostas: O racional e sensato Ralph, e o temperamental e impetuoso Jack.
Livres das amarras morais impostas pela sociedade, os jovens não verão problemas no ato de tentar sobrepujar seus antagonistas usando de força, de traição ou de outros artifícios que a vida em civilização lhe podaria.
Suas ações e reações, portanto, refletem a natureza de barbárie que, apesar de tudo, jaz dentro do homem moderno.
O filme mais antigo, dirigido por Peter Brook é mais feliz em inúmeros aspectos do que o filme de 1990, comandado por Harry Hook, sendo o elemento mais evidente a atuação coletiva dos garotos, todos dirigidos com exatidão por Brook que deles extrai o registro exato para cada um dos personagens e das cenas, sendo o garoto que interpreta “Porquinho” o caso mais claro.
Pode não parecer muito, mas isso acrescenta um amplo entendimento ao expectador do verdadeiro mote que o livro já queria abordar: A idéia, profundamente filosófica, de que o cerne por meio do qual a sociologia se instala em nosso subconsciente advêm do mais simples dos denominadores. “Tudo me é lícito. Nem tudo me convém.”
Em ambos os filmes, a ideia do livro está lá: A de que, sem a conveniência moral que nos orienta e, por vezes, nos inibe, cederíamos a uma progressiva selvageria.
No filme antigo, porém, essa idéia vem exposta com um cuidado maior para com os personagens que a encenam.
Na realidade, o filme de Hook pouco parece acrescentar em relação à versão de Brook, exceto no acréscimo das cenas coloridas.
O curioso do fato de que o jovem elenco do filme de 1963 esteja melhor do que do 1990, é que aparentemente nenhum dos jovens do elenco do filme antigo seguiu carreira no cinema, enquanto que no filme recente, o intérprete de Ralph, por exemplo, e Balthazar Getty que, anos depois, já mais velho, participou de “A Estrada Perdida” de David Lynch.

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