sábado, 21 de maio de 2016

Vida Cigana

Talvez, a obra-prima de Emir Kusturica. Dentre seus trabalhos é certamente aquele que tem a narrativa mais acertada e bem resolvida.
O quê não é pouco em se tratando de um filme tão onírico quanto os que costumam sair da imaginação deste que é possivelmente o maior diretor da extinta Iugoslávia.
Curioso que, a exemplo de Buñuel e Fellini, os elementos fantásticos nunca servem para aliviar as desventuras de seus personagens, tornando-se soluções mágicas para quaisquer aflições. Pelo contrário: Embora carregado de magia (e não raro, de poesia), os personagens e o mundo no qual Kusturica os insere não são isentos da dor, do fracasso, da morte e da perda, aliás, de toda a sorte de atrocidades que fatalmente podem acontecer.
Na incomum gramática cinematográfica de Kusturica, todos esses revezes são parte do ciclo de transformações da vida.
O jovem Perhan nutre sonhos, como todos os jovens de sua idade, aliás, nos quais se vê casado com sua amada Azra, e gozando de riqueza (que ele não tem) e de respeito (que ele tem menos ainda!) em sua aldeia nos arredores de Sarajevo.
A fim de obter tudo o que lhe falta, ele é convencido por um conhecido, Ahmed, a embarcar numa viagem rumo à Itália, ao lado da irmã menor. Mas, absolutamente nada sairá como o previsto, e Perhan descobrirá que envolveu-se numa tremenda encrenca.

Em todos os trabalhos de Kusturica, a vida se expressa de maneiras enigmáticas, subvertendo os percalços para seus protagonistas e, muitas vezes, para o expectador. Nem sempre ele encontra harmonia entre esse delírio poético e esse realismo tangível, mas em “Vida Cigana” ele alcança uma grandeza cinematográfica que raros diretores almejam.

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