Talvez, a obra-prima de Emir Kusturica. Dentre
seus trabalhos é certamente aquele que tem a narrativa mais acertada e bem
resolvida.
O quê não é pouco em se tratando de um filme
tão onírico quanto os que costumam sair da imaginação deste que é possivelmente
o maior diretor da extinta Iugoslávia.
Curioso que, a exemplo de Buñuel e Fellini, os
elementos fantásticos nunca servem para aliviar as desventuras de seus
personagens, tornando-se soluções mágicas para quaisquer aflições. Pelo
contrário: Embora carregado de magia (e não raro, de poesia), os personagens e
o mundo no qual Kusturica os insere não são isentos da dor, do fracasso, da
morte e da perda, aliás, de toda a sorte de atrocidades que fatalmente podem
acontecer.
Na incomum gramática cinematográfica de
Kusturica, todos esses revezes são parte do ciclo de transformações da vida.
O jovem Perhan nutre sonhos, como todos os
jovens de sua idade, aliás, nos quais se vê casado com sua amada Azra, e
gozando de riqueza (que ele não tem) e de respeito (que ele tem menos ainda!)
em sua aldeia nos arredores de Sarajevo.
A fim de obter tudo o que lhe falta, ele é
convencido por um conhecido, Ahmed, a embarcar numa viagem rumo à Itália, ao
lado da irmã menor. Mas, absolutamente nada sairá como o previsto, e Perhan
descobrirá que envolveu-se numa tremenda encrenca.
Em todos os trabalhos de Kusturica, a vida se
expressa de maneiras enigmáticas, subvertendo os percalços para seus
protagonistas e, muitas vezes, para o expectador. Nem sempre ele encontra
harmonia entre esse delírio poético e esse realismo tangível, mas em “Vida Cigana”
ele alcança uma grandeza cinematográfica que raros diretores almejam.
Nenhum comentário:
Postar um comentário