sábado, 21 de maio de 2016

O Pacto dos Lobos

O grande Cult movie francês da década de 2000, a despeito de muitas obras realmente sensacionais que surgiram por lá naquela época, foi mesmo “O Pacto dos Lobos”.
Até então, mais conhecido como realizador de filmes de terror (inclusive em experiências nos EUA, onde fez um episódio da coletânea de terror B “Necronomicon”, adaptado de H.P. Lovecraft) e de filmes de ação, cujo o mais expressivo foi “O Combate-Lágrimas do Guerreiro” com Mark Dacascos, o diretor Christophe Gans deu uma bela surtada ao encarar um projeto extremamente desigual que misturava um sem número de ecléticas influências (artes marciais, ambientação vitoriana; montagem de videoclip; monstros ;e a colossal nudez da italiana Monica Bellucci), para contar uma história baseada, até certo ponto, em relatos tidos como verdadeiros, mas intrinsecamente lendários.
1764. A França do Século retrasado é assolada pelas lendas que correm a respeito de um animal monstruoso que ataca os camponeses de Gevaudan, um vilarejo ao Norte, despertando as superstições do povo e gerando um preocupante clamor popular que chega a incomodar a coroa.
Preocupado com todo o folclore alarmista que a história vai ganhando, o Rei envia um pesquisador aventureiro (Samuel Le Bihan) e seu companheiro índio (Mark Dacascos, em mais uma colaboração com Gans) para a região incumbidos de solucionar a situação. Mas a dupla esbarra em mistérios que remontam a natureza maldosa de sociedades secretas criadas na região e que se estendem até a política e o poder religioso, e que estão diretamente ligados à origem do monstro.
Entre muitos dos personagens que lá eles encontram estão a jovem e angelical aristocrata Mariane (Emilie Dequenne), o pé no saco François (Vincent Cassel) e a prostituta Sylvia (Monica Bellucci, uma das coisas mais memoráveis do filme).
Talvez, a premissa de “Pacto dos Lobos” até lembrasse, um pouco, muitos filmes hollywoodianos produzidos em solo americano, mas o tratamento e o modo com que o diretor Gans enxergava a história era totalmente incomum. Ele conseguiu que o produtor Samuel Hadida (associado à Richard Granpierre) bancassem a produção, viabilizando todos os seus delírios que, num estúdio americano, jamais encontrariam sinal verde.
Contudo, o que distingue “Pacto...” de tantos filmes sobre monstros, sobre artes marciais, ou sobre qualquer coisa com a qual o filme se pareça, é realmente a forma com que Gans aborda tudo. Suas referências são ainda mais audaciosas do que no já promissor “O Combate-Lágrimas do Guerreiro” (no qual ele parecia incorporar um John Woo ainda mais lírico e operístico), e vão desde “Tubarão” de Steven Spielberg (usado, sobretudo, na cena do primeiro ataque do monstro), passando por “Matrix” (as coreografias em câmera lenta), e até mesmo “O Nome da Rosa” (a natureza incomum do filme e de sua investigação).
O resultado é tão singular que chega a despertar uma certa estranheza no expectador, mas Gans conduz seu filme como um trabalho comercial, num ritmo frenético que deve ter deixado Luc Besson orgulhoso. É verdade que sua narrativa padece pelo excesso; a trama não somente contem ramificações excessivas e, em dado momento, intrincadas, como também o filme abusa de sua extensa duração. Mas existe tanta paixão na execução de “Pacto dos Lobos” que seus erros acabam sendo parte daquilo que o torna único. Seus defeitos são tão fundamentais às características que o definem quanto suas virtudes.

E parece ser apropriado que essa miscelânea de influências audazes renda um filme francês.

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