Ah, Sofia Coppola... dona de um estilo de
filmar tão íntimo e delicado, tão atento aos pequenos detalhes que passam
despercebidos em meio ao transcorrer corriqueiro da vida, e tão diferenciado do
tom épico normalmente associado ao seu pai, Francis Ford.
Sofia busca capturar impressões. Suas cenas
traduzem a percepção fugaz e etérea de momentos em transe, de instantes
contemplativos que se transformam em alguma coisa mais indefinível. Essa
indefinição é o que fascina Sofia, e ela vem, às vezes, do próprio tédio, da
tristeza, do deslocamento. Disso tudo e de mais um pouco.
Unindo todas essas impressões, ela cria cenas
que conduzem sua narrativa e contam sua história.
Havia uma busca paulatina por esse estilo em
“As Virgens Suicidas”. Busca, essa, que foi amplamente feliz, consumada e
bem-sucedida em “Encontros e Desencontros”.
Esse estilo se expressa até mesmo num trabalho
menos autoral –feito muito mais à sombra do pai (e daquilo que o pai dela
esperava) –em “Maria Antonieta”.
Quando chegamos, portanto, em seu quarto
trabalho como diretora, “Um Lugar Qualquer” (Vencedor do Urso de Ouro no
Festival de Berlim, em 2010), percebemos Sofia completamente consciente da
cineasta que é, e da voz que encontrou (e do quê deseja dizer com ela).
Não à toa é com “Encontros e Desencontros” que
as similaridades deste filme se estreitam mais. Como naquela obra, temos um
ator –neste caso mais jovem e ainda com sucesso –Johnny Marco (Stephen Dorf,
longe de ser tão brilhante quanto Bill Murray), cuja alienada existência de
badalação e futilidade lhe rouba toda a perspectiva de uma felicidade real,
embora ele nem mesmo se dê conta disso.
Faíscas de um despertar desse vazio parecem
surgir quando ele recebe a visita de sua filha pré-adolescente, Cleo (a
encantadora Elle Fanning).
É não focar-se nela, e em seu pertinente drama
de abandono e indiferença (com o qual, não duvido, Sofia deve ter forte
identificação), o grande erro do filme: O foco é sempre Johnny Marco e sua
imersão naquela vida de artista famoso com ampla margem para o tédio e o
questionamento existencial.
Sofia fez, aqui, uma escolha: Sua intenção foi
tentar repetir o sucesso de sua obra-prima, “Encontros...” ao invés de optar em
ser fiel a si mesma, e nomear protagonista a única personagem que realmente lhe
representava.
Do jeito que está, este
filme singelo e algo alternativo funciona toda vez que Elle Fanning entra em
cena. E como ela é uma coadjuvante, negligenciada por sua diretora tanto quanto
por seus pais, isso não é o bastante.
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