quinta-feira, 21 de julho de 2016

Aleluia, Gretchen

   A saga (se é que dá pra utilizar esse termo...) de imigrantes no Brasil perpetrada por Sylvio Black é um dos grandes filmes nacionais dos anos 1970.
Embora o resultado final pouco pareça acrescentar, nos dias de hoje, em termos de discussão ou postura opinativa.
   É lógico que precisamos observar “Aleluia, Gretchen” sob o contexto da época em que foi feito, onde os valores de produção obtidos pelo nosso cinema costumavam ser precários. Em muitos casos, ainda hoje o são!
   Na época, e por muito tempo depois, o cinema nacional sobrevivia de pornochanchadas que atraiam público. A Embrafilme representava um incentivo do governo à produção autoral e era de lá que saíam os trabalhos de diretores profundamente engajados e comprometidos com uma produção cinematográfica mais elitista, o perfil, portanto, de Sylvio Black.
   “Aleluia, Gretchen” tem seu inicio em 1935, momento da chegada dos Krantz, vindos da Alemanha, à uma cidade do sul do Brasil. Ainda longe de eclodir a Segunda Guerra Mundial, a Alemanha que eles deixaram para trás era o cenário de ascensão do nazismo e o patriarca da família (Sérgio Hingst) guarda lembranças amargas do testemunho da segregação aos judeus começando. Já, a mãe (Mirian Pires), por sua vez, é uma declarada simpatizante de Hitler, embora não se dê conta que, ao longo da vivência de toda a família no Brasil, suas doutrinas acabem se alterando a ponto dela tornar um negro a única pessoa na qual consegue confiar.
   Muitos percalços se seguem, incluindo o matrimônio de Gudrun (Selma Egrei, belíssima) com o abastado Eurico (Carlos Vereza), que apesar de uma ocasional rejeição passa a sustentar a família.
   É incômoda, muitas vezes, a ingenuidade da encenação: Os imigrantes alemães já chegam ao Brasil (a despeito de sua injúria inicial) falando fluentemente (e com todos os trejitos lingüísticos ofensivos) o idioma nacional. Um trabalho mais elaborado junto à preparação do elenco (e ao qual certamente seria um pesadelo para Back lançar mão, na época) seria o de fazer com o que os atores que interpretam alemães, na primeira parte do filme, pelo menos, dissessem suas falas em alemão, para aos poucos migrar para o idioma regional.
   Se detalhes assim tiram a credibilidade do filme, ao menos, a postura do elenco é magnífica de um modo geral, em especial a irascível composição de Mirian Pires e o sempre minucioso trabalho de Carlos Vereza.
   Quando a narrativa chega em meados da década de 1950, com a Grande Guerra finda e os nazistas perseguidos como criminosos de guerra, os Krantz fornecem abrigo a um grupo de ex-oficiais da SS. Sua permanência, eles afirmam com inapelável ar de superioridade, é provisória, já que seu destino é, supostamente, o Cone Sul, onde travarão ambiciosas negociações com os argentinos. Mas a estadia deles se estende por anos (até a década de 1970!), sempre enaltecidos pelos Krantz para a indignação de Eurico.
   Ao fim, a atitude dos ex-nazistas para silenciar Eurico soa como exagerada e absurda, até mesmo inadequada ao tom do filme.

  Feito de recursos objetivos e econômicos, como tinha que ser, o filme de Back representa uma salutar tentativa em usar o cinema para ilustrar aspectos nebulosos e desconhecidos de nossa própria história. Um potencial da arte cinematográfica infelizmente pouco aproveitada no cinema nacional. Por sorte, houveram artesões como Sylvio Back para quebrar essa nefasta regra. 

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