A saga (se é que dá pra utilizar esse termo...)
de imigrantes no Brasil perpetrada por Sylvio Black é um dos grandes filmes
nacionais dos anos 1970.
Embora o resultado final pouco pareça
acrescentar, nos dias de hoje, em termos de discussão ou postura opinativa.
É lógico que precisamos observar “Aleluia,
Gretchen” sob o contexto da época em que foi feito, onde os valores de produção
obtidos pelo nosso cinema costumavam ser precários. Em muitos casos, ainda hoje
o são!
Na época, e por muito tempo depois, o cinema
nacional sobrevivia de pornochanchadas que atraiam público. A Embrafilme
representava um incentivo do governo à produção autoral e era de lá que saíam
os trabalhos de diretores profundamente engajados e comprometidos com uma
produção cinematográfica mais elitista, o perfil, portanto, de Sylvio Black.
“Aleluia, Gretchen” tem seu inicio em 1935,
momento da chegada dos Krantz, vindos da Alemanha, à uma cidade do sul do
Brasil. Ainda longe de eclodir a Segunda Guerra Mundial, a Alemanha que eles
deixaram para trás era o cenário de ascensão do nazismo e o patriarca da
família (Sérgio Hingst) guarda lembranças amargas do testemunho da segregação
aos judeus começando. Já, a mãe (Mirian Pires), por sua vez, é uma declarada
simpatizante de Hitler, embora não se dê conta que, ao longo da vivência de
toda a família no Brasil, suas doutrinas acabem se alterando a ponto dela
tornar um negro a única pessoa na qual consegue confiar.
Muitos percalços se seguem, incluindo o
matrimônio de Gudrun (Selma Egrei, belíssima) com o abastado Eurico (Carlos
Vereza), que apesar de uma ocasional rejeição passa a sustentar a família.
É incômoda, muitas vezes, a ingenuidade da
encenação: Os imigrantes alemães já chegam ao Brasil (a despeito de sua injúria
inicial) falando fluentemente (e com todos os trejitos lingüísticos ofensivos)
o idioma nacional. Um trabalho mais elaborado junto à preparação do elenco (e
ao qual certamente seria um pesadelo para Back lançar mão, na época) seria o de
fazer com o que os atores que interpretam alemães, na primeira parte do filme,
pelo menos, dissessem suas falas em alemão, para aos poucos migrar para o
idioma regional.
Se detalhes assim tiram a credibilidade do
filme, ao menos, a postura do elenco é magnífica de um modo geral, em especial
a irascível composição de Mirian Pires e o sempre minucioso trabalho de Carlos
Vereza.
Quando a narrativa chega em meados da década de
1950, com a Grande Guerra finda e os nazistas perseguidos como criminosos de
guerra, os Krantz fornecem abrigo a um grupo de ex-oficiais da SS. Sua
permanência, eles afirmam com inapelável ar de superioridade, é provisória, já
que seu destino é, supostamente, o Cone Sul, onde travarão ambiciosas
negociações com os argentinos. Mas a estadia deles se estende por anos (até a
década de 1970!), sempre enaltecidos pelos Krantz para a indignação de Eurico.
Ao fim, a atitude dos ex-nazistas para
silenciar Eurico soa como exagerada e absurda, até mesmo inadequada ao tom do
filme.
Feito de recursos objetivos e econômicos, como
tinha que ser, o filme de Back representa uma salutar tentativa em usar o
cinema para ilustrar aspectos nebulosos e desconhecidos de nossa própria
história. Um potencial da arte cinematográfica infelizmente pouco aproveitada
no cinema nacional. Por sorte, houveram artesões como Sylvio Back para quebrar
essa nefasta regra.
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