quarta-feira, 27 de julho de 2016

Mauvais Sang - Sangue Ruim

 O quê se compreende por realidade é uma mera dicotomia a ser trabalhada por Leos Carax em seu misto orgânico de romance, drama e ficção científica.
   Na melhor tradição do cinema comercial francês –ou de percepção que se tinha e ainda se tem de cinema comercial francês –Carax carrega seu trabalho com elemento de atípico estranhamento, um verniz intelectual e cool que promovia o diferencial em obras que ele, Luc Besson, Jean-Jacques Beinex e outros fizeram. Era o cinema francês encontrando uma nova roupagem naqueles estilosamente luxuriantes anos 1980.
   “Mauvais Sang”, que infelizmente não é tão bom quanto “Os Amantes da Pont-Neuf”, começa com as tentativas frustradas de dois trambiqueiros (Michel Piccoli e Hans Meyer) em lucrar com um vírus que se dissemina na Europa, nesse futuro próximo.
   Tal vírus (nunca de fato esmiuçado pela narrativa que, em um determinado ponto, parece colocar esse elemento completamente de lado) está matando as pessoas que fazem sexo sem ter amor. O plano dos dois é invadir um laboratório, roubar amostras do antídoto que está sendo preparado, e vendê-lo no mercado negro.
   Para tanto, precisam da ajuda indispensável, ainda que relutante, do filho de um falecido cúmplice, Alex (Denis Lavant). A vida do jovem, contudo, está tumultuada: Alex está se dando conta de que não mais ama sua namorada, Lise (Julie Delpy, bem novinha), e essa conclusão, com a proximidade do tal vírus o deixa alarmado.
   A tornar tudo ainda mais grave, Alex se enamora pela jovem que vive com um dos trambiqueiros do início, a enigmática Anna (Juliete Binoche que, junto com Lavant, faz também o casal central do outro filme de Carax, “Os Amantes da Ponte-Neuf”).
   Tudo no filme é estilização, dos ambientes, que não só sugerem um curioso futurismo como também parecem agregar diferentes influências e origens (o apartamento onde todos pernoitam durante boa parte do filme, por exemplo, parece ser uma mistura estranha de barbearia, casa e almoxarifado), até os rumos inconseqüentes, até esquizofrênicos, da história (esquecendo alguns ganchos narrativos pelo caminho, lembrando-se deles repentinamente, mudando de idéia várias vezes, e remodelando a ordem e a lógica de seu roteiro), passando pelo tratamento, dado a isso tudo, pelo diretor Leos Carax, ainda jovem, ainda na procura por um tom que representasse não apenas o que intencionava dizer, mas que representasse a si mesmo.
   Do jeito como está, é curioso e intrigante, como muitos bons filmes franceses da década de 1980. Mas, Carax, em sua filmografia cheia de paixão e elementos interessantes, já entregou coisa muito melhor.

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