Sob a luz de um presente no qual temos a
consciência de toda sua importância, esta série “Bourne”, sobretudo este filme
inaugural, ganha, como tudo o mais, um novo viés.
A direção de Doug Liman (o grande Paul
Greenglass só seria incluído no filme seguinte) caminha numa linha tênue entre
o cinema comercial que deseja honrar e o audaz lampejo criativo e autoral que o
incita a romper com os paradigmas. Um desses rompimentos (e este é só um dos
elementos que a névoa da consagração muitas vezes não permite que enxerguemos)
é a escolha de Matt Damon para seu protagonista, não muito longe de sua
aclamação (e revelação!) junto ao Oscar, em “Gênio Indomável”.
No papel do homem misterioso que pescadores
europeus recolhem do mar, baleado e sem memória, Matt Damon não apenas desafia
o expectador a encontrar o propósito de sua presença –de inusitada envergadura
dramática –nesse personagem moldado para a ação, mas também expõe, de pronto,
qualidades que, nele, provocarão sucessivas interjeições de surpresa.
Seu protagonista não sabe quem é nem como ou
por quê foi parar ali, mas ao aportar em terra é a sua prioridade descobrir.
Aos poucos ele percebe que possui habilidades extraordinárias para lutar e
matar (ilustradas com brilho em seqüências de inquestionável propriedade
concebidas por Liman), e que seu cérebro, quase que por instinto, sabe o que
fazer nos momentos de perigo.
Com a ajuda de uma jovem (a
alemã Franka Potente) que cai de gaiato na confusão dessa trama de espionagem
(e que inadvertidamente será seu improvável par romântico), ele descobre que
tem um nome, Jason Bourne, e que existem dezenas de agentes mortais, oriundos
de um certo Projeto Treadstone, ao seu encalço por alguma nebulosa razão (um
deles interpretado por um ainda desconhecido Clive Owen), mas isso não basta:
Ele quer recuperar toda sua memória perdida e descobrir afinal de contas quem
é.
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