quarta-feira, 27 de julho de 2016

A Supremacia Bourne

   Não havia dúvidas de que havia um fascinante diferencial em “A Identidade Bourne” em relação aos genéricos filmes de ação e espionagem que sempre infestavam o gênero.
   Esse diferencial, além da presença tão inesperada quanto acertada de Matt Damon, era a tarimba desigual com a qual o diretor Doug Liman manipulava os elementos da ação, empregando ali uma percepção incomum, talvez europeizada, muito bem-vinda na necessidade de renovação que o gênero clamava.
   Esse elemento, o diretor Liman, foi substituído por outro, uma escolha ainda mais inesperada, em sua continuação “A Supremacia Bourne”.
   Então realizador de um premiado trabalho em sua Irlanda natal (o ótimo “Domingo Sangrento”, vencedor do prêmio de Melhor Filme no Festival de Berlin), o politizado e artístico Paul Greenglass era uma escolha ainda mais estranha do que Doug Liman (que apesar de seus trabalhos independentes e autorais, flertava de modo mais aproximado com o cinema industrial). No final das contas, justamente essa inclinação de Greenglass para a contestação involuntária do gênero (e o inconformismo advindo disso) potencializou tudo o quê Liman já queria fazer em “Identidade”: Uma construção minuciosa e criteriosa de cenas, onde o conceito de ação em si servia, também ele, ao registro de uma trajetória dramática bem definida e bem construída, por meio da qual um grande filme se fortaleceria através das bases sólidas de todo o grande cinema: Um bom diretor, um bom elenco e um bom roteiro.
   E é exatamente isso que “A Supremacia Bourne” é: Um grande filme!
   Três anos depois dos eventos mostrados em "A Identidade Bourne", o desmemoriado Jason Bourne (Matt Damon) vive em paz na Índia com sua namorada Marie (Franka Potente). Entretanto, quando um grave problema diplomático resulta num assassinato de agentes da CIA, surgem indícios que incriminam Bourne e o colocam na mira da Agência de Segurança, de outros agentes corruptos que querem enterrar o Projeto Treadstone, e de um assassino russo (o eficaz Karl Urban).
   A vida de Bourne é virada de ponta cabeça e, uma vez mais ele terá de contar com suas habilidades como agente para se desvencilhar de uma conspiração e sair vivo, o que inclui partir atrás de outros agentes do desativado projeto: Há uma cena em que ele reencontra um operativo como ele (interpretado por Marton Csokas), na qual eu julgava tratar-se do mesmo personagem interpretado por Clive Owen no primeiro filme –não me lembrava que era interpretado por Owen, como também não lembrava que ele morre já em “Identidade”... –aliás, essa cena culmina numa cena de luta entre Bourne e o personagem de Csokas que mostra bem a perícia com que Greenglass aborda o desenvolvimento da ação; Ela é brutal, cru, filmada com precisão e com incontestável noção de lógica, ritmo e dramaticidade.

   Até o filme se encerrar, haverão pelo menos outros dois grandes momentos que tornarão o filme de Greenglass não apenas memorável, como também uns bons degraus acima no anterior em qualidade: Os improvisos rápidos e sensacionais que Bourne fará tentando despistar um grupo de agentes a fim de rastreá-lo, e a magnífica seqüência final da perseguição de carros em Berlin.

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