Não havia dúvidas de que havia um fascinante
diferencial em “A Identidade Bourne” em relação aos genéricos filmes de ação e
espionagem que sempre infestavam o gênero.
Esse diferencial, além da presença tão
inesperada quanto acertada de Matt Damon, era a tarimba desigual com a qual o
diretor Doug Liman manipulava os elementos da ação, empregando ali uma
percepção incomum, talvez europeizada, muito bem-vinda na necessidade de
renovação que o gênero clamava.
Esse elemento, o diretor Liman, foi substituído
por outro, uma escolha ainda mais inesperada, em sua continuação “A Supremacia
Bourne”.
Então realizador de um premiado trabalho em sua
Irlanda natal (o ótimo “Domingo Sangrento”, vencedor do prêmio de Melhor Filme
no Festival de Berlin), o politizado e artístico Paul Greenglass era uma
escolha ainda mais estranha do que Doug Liman (que apesar de seus trabalhos
independentes e autorais, flertava de modo mais aproximado com o cinema
industrial). No final das contas, justamente essa inclinação de Greenglass para
a contestação involuntária do gênero (e o inconformismo advindo disso)
potencializou tudo o quê Liman já queria fazer em “Identidade”: Uma construção
minuciosa e criteriosa de cenas, onde o conceito de ação em si servia, também
ele, ao registro de uma trajetória dramática bem definida e bem construída, por
meio da qual um grande filme se fortaleceria através das bases sólidas de todo
o grande cinema: Um bom diretor, um bom elenco e um bom roteiro.
E é exatamente isso que “A Supremacia Bourne”
é: Um grande filme!
Três anos depois dos eventos mostrados em
"A Identidade Bourne", o desmemoriado Jason Bourne (Matt Damon) vive
em paz na Índia com sua namorada Marie (Franka Potente). Entretanto, quando um
grave problema diplomático resulta num assassinato de agentes da CIA, surgem
indícios que incriminam Bourne e o colocam na mira da Agência de Segurança, de
outros agentes corruptos que querem enterrar o Projeto Treadstone, e de um
assassino russo (o eficaz Karl Urban).
A vida de Bourne é virada de ponta cabeça e,
uma vez mais ele terá de contar com suas habilidades como agente para se
desvencilhar de uma conspiração e sair vivo, o que inclui partir atrás de
outros agentes do desativado projeto: Há uma cena em que ele reencontra um
operativo como ele (interpretado por Marton Csokas), na qual eu julgava
tratar-se do mesmo personagem interpretado por Clive Owen no primeiro filme
–não me lembrava que era interpretado por Owen, como também não lembrava que
ele morre já em “Identidade”... –aliás, essa cena culmina numa cena de luta
entre Bourne e o personagem de Csokas que mostra bem a perícia com que
Greenglass aborda o desenvolvimento da ação; Ela é brutal, cru, filmada com
precisão e com incontestável noção de lógica, ritmo e dramaticidade.
Até o filme se encerrar, haverão pelo menos
outros dois grandes momentos que tornarão o filme de Greenglass não apenas
memorável, como também uns bons degraus acima no anterior em qualidade: Os
improvisos rápidos e sensacionais que Bourne fará tentando despistar um grupo
de agentes a fim de rastreá-lo, e a magnífica seqüência final da perseguição de
carros em Berlin.
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