Primeira obra de Daren Aronokski, este
complexo, soturno e opressivo conto em preto e branco sobre as entranhas do
sistema moderno e sua desigual fauna de esquisitos seres que se arrastam e se
escondem por suas sombras é uma amostra do fôlego criativo que ele ostentava na
década de 1990.
O próprio Aronofski é o primeiro a admitir que
é incapaz de fazer os filmes que fez naquele início de carreira (tão plenos de
ímpeto e de ousadia) em contrapontos aos trabalhos de orientação
cinematográfica mais clássica que realizou nos últimos anos; ainda que, também
eles refletissem um autor incapaz de se conformar às convenções.
Eis os fatos: Outrora um promissor talento da
informática, o hacker anti-social Max (Sean Gullette) divide as ocasionais
visitas ao seu antigo mentor (um ex-professor vitimado por um derrame cerebral)
com sua incondicional dedicação à um projeto: Encontrar um padrão matemático na
bolsa de valores através do qual possa lucrar impunemente.
Tal padrão, ele tem quase certeza, está
relacionado ao número do pi, calculado a partir da soma do centro de uma
circunferência e que, ele deduz, possui duzentos dígitos (passando a crer que
seja a própria identidade de Deus!).
Contudo, toda a vez em que está próximo de
obter sucesso (exatamente quando está no centésimo nonagésimo nono dígito) o
computador adquire “consciência de silício” –obrigando-se a tornar-se mais
inteligente, e assim compreendendo que é uma mera máquina –e pifa (morre). Para ter êxito, ele recorre à
rabinos ortodoxos e a perigosos mafiosos através dos quais ele consegue um chip
forte o suficiente para agüentar a carga do número sem pifar.
Mas, com problemas desse porte em seu encalço,
ele talvez precise fazer um esforço e tentar memorizar o número do pi em sua
própria mente, algo que talvez o seu mentor já tenha tentado fazer (e que,
talvez, seja o motivo para o derrame que parcialmente o invalidou).
Uma série incomum de inspirações e ideologias
guia esta sua narrativa que, ao mesmo tempo em que encontra paralelos com o
agudo e magistral “Réquiem Para Um Sonho”, também parece exigir um espaço todo
próprio e singular na filmografia de seu realizador, permanecendo assim como
uma obra nascida da mais pura e vívida chama criativa.
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