sexta-feira, 15 de julho de 2016

Pi

   Primeira obra de Daren Aronokski, este complexo, soturno e opressivo conto em preto e branco sobre as entranhas do sistema moderno e sua desigual fauna de esquisitos seres que se arrastam e se escondem por suas sombras é uma amostra do fôlego criativo que ele ostentava na década de 1990.
   O próprio Aronofski é o primeiro a admitir que é incapaz de fazer os filmes que fez naquele início de carreira (tão plenos de ímpeto e de ousadia) em contrapontos aos trabalhos de orientação cinematográfica mais clássica que realizou nos últimos anos; ainda que, também eles refletissem um autor incapaz de se conformar às convenções.
   Eis os fatos: Outrora um promissor talento da informática, o hacker anti-social Max (Sean Gullette) divide as ocasionais visitas ao seu antigo mentor (um ex-professor vitimado por um derrame cerebral) com sua incondicional dedicação à um projeto: Encontrar um padrão matemático na bolsa de valores através do qual possa lucrar impunemente.
   Tal padrão, ele tem quase certeza, está relacionado ao número do pi, calculado a partir da soma do centro de uma circunferência e que, ele deduz, possui duzentos dígitos (passando a crer que seja a própria identidade de Deus!).
   Contudo, toda a vez em que está próximo de obter sucesso (exatamente quando está no centésimo nonagésimo nono dígito) o computador adquire “consciência de silício” –obrigando-se a tornar-se mais inteligente, e assim compreendendo que é uma mera máquina –e  pifa (morre). Para ter êxito, ele recorre à rabinos ortodoxos e a perigosos mafiosos através dos quais ele consegue um chip forte o suficiente para agüentar a carga do número sem pifar.
  Mas, com problemas desse porte em seu encalço, ele talvez precise fazer um esforço e tentar memorizar o número do pi em sua própria mente, algo que talvez o seu mentor já tenha tentado fazer (e que, talvez, seja o motivo para o derrame que parcialmente o invalidou).

   Uma série incomum de inspirações e ideologias guia esta sua narrativa que, ao mesmo tempo em que encontra paralelos com o agudo e magistral “Réquiem Para Um Sonho”, também parece exigir um espaço todo próprio e singular na filmografia de seu realizador, permanecendo assim como uma obra nascida da mais pura e vívida chama criativa.

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