Neste caso aqui, com a direção de Danny Boyle
(realizador de ótimos e variados filmes como “Quem Quer Ser Um Milionário?”,
“127 Horas” e “Trainspotting”) e com roteiro de Aaron Sorkin (mesmo roteirista
do arrojado “A Rede Social”), era improvável que o filme não fosse, pelo menos,
satisfatório.
Estabelecendo uma considerável relação com o
filme escrito por Sorkin (que, por sua vez, contava a trajetória de Mark
Zuckenberg, o criador do Facebbok), como não poderia deixar de ser em vista das
muitas similaridades do projeto, quase não se percebe o estilo de Boyle aqui,
ainda que seu ritmo ágil e sua encenação inventiva estejam lá presentes.
Ao contrário do filme com Ashton Kutcher, o
roteiro de Sorkin não se prende a uma biografia com começo meio e fim, mas à
três momentos específicos da trajetória de Jobs (um espetacular Michael
Fassbender) que, esmiuçados e colocados em perspectiva, formam um curioso
painel das transformações que envolveram a vida do personagem retratado e de
todos aqueles que o orbitaram.
Acompanhamos, assim, o lançamento do Mac, em
1984, quando somos introduzidos à vida já tumultuada de Jobs, à interpretação
irrequieta e ao mesmo tempo ponderada de Fassbender, e aos bem escolhidos
coadjuvantes à sua volta (a consultora-assistente vivida por Kate Winslet, o
melhor amigo interpretado por Seth Rogen, o mentor personificado por Jeff Daniels e o colega vivido por Michael
Sthulbach), que ganham diálogos inspiradíssimos e afiados.
Somos levados a perceber, acima de tudo, as
duas facetas absolutamente incompatíveis de Jobs: O admirável empreendedor de
pensamento rápido e de privilegiado senso de administração, em contraponto ao
ser humano arrogante, vaidoso e não raro, imaturo.
Mal dá tempo de processar o turbilhão de informações
desse primeiro ato, e já somos arremessados no tempo, em 1990, época do
lançamento do NeXT, circunstância por meio da qual o roteiro de Sorkin oferece
prontas respostas em relação a muitos dos eventos antes esboçados. E é aí que o
filme como um todo começa a mostrar a quê veio.
A lembrança e as transformações nas relações
ocasionadas pelo tempo, e por vezes transfiguradas pelo rancor, pelas
expectativas e até pela indiferenças são colocadas em pauta o tempo todo,
usando como cerne dramático justamente (e ironicamente) um personagem que luta
para fingir para todo o mundo que não liga para essas coisas.
Ao chegarmos na apresentação do iPod, em 2001,
e por conseqüência, ao trecho final do filme, a grande atuação de Fassbender (e
a bem da verdade de todo o ótimo elenco), assim como a exemplar condução de
Boyle, já nos deixou perplexos diante desse personagem que nos leva aos
extremos da empatia e da injúria, mas que ainda assim nos flagramos torcendo
para que ele perceba as coisas importantes que estão passando por sua frente.
Antes que seja tarde
demais.
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