sexta-feira, 15 de julho de 2016

Steve Jobs

  
   Há um filme anterior feito sobre o fundador da Apple, com Ashton Kutcher, e que resulta lamentável.
   Neste caso aqui, com a direção de Danny Boyle (realizador de ótimos e variados filmes como “Quem Quer Ser Um Milionário?”, “127 Horas” e “Trainspotting”) e com roteiro de Aaron Sorkin (mesmo roteirista do arrojado “A Rede Social”), era improvável que o filme não fosse, pelo menos, satisfatório.
Estabelecendo uma considerável relação com o filme escrito por Sorkin (que, por sua vez, contava a trajetória de Mark Zuckenberg, o criador do Facebbok), como não poderia deixar de ser em vista das muitas similaridades do projeto, quase não se percebe o estilo de Boyle aqui, ainda que seu ritmo ágil e sua encenação inventiva estejam lá presentes.
   Ao contrário do filme com Ashton Kutcher, o roteiro de Sorkin não se prende a uma biografia com começo meio e fim, mas à três momentos específicos da trajetória de Jobs (um espetacular Michael Fassbender) que, esmiuçados e colocados em perspectiva, formam um curioso painel das transformações que envolveram a vida do personagem retratado e de todos aqueles que o orbitaram.
   Acompanhamos, assim, o lançamento do Mac, em 1984, quando somos introduzidos à vida já tumultuada de Jobs, à interpretação irrequieta e ao mesmo tempo ponderada de Fassbender, e aos bem escolhidos coadjuvantes à sua volta (a consultora-assistente vivida por Kate Winslet, o melhor amigo interpretado por Seth Rogen, o mentor personificado por Jeff Daniels e o colega vivido por Michael Sthulbach), que ganham diálogos inspiradíssimos e afiados.
   Somos levados a perceber, acima de tudo, as duas facetas absolutamente incompatíveis de Jobs: O admirável empreendedor de pensamento rápido e de privilegiado senso de administração, em contraponto ao ser humano arrogante, vaidoso e não raro, imaturo.
Mal dá tempo de processar o turbilhão de informações desse primeiro ato, e já somos arremessados no tempo, em 1990, época do lançamento do NeXT, circunstância por meio da qual o roteiro de Sorkin oferece prontas respostas em relação a muitos dos eventos antes esboçados. E é aí que o filme como um todo começa a mostrar a quê veio.
   A lembrança e as transformações nas relações ocasionadas pelo tempo, e por vezes transfiguradas pelo rancor, pelas expectativas e até pela indiferenças são colocadas em pauta o tempo todo, usando como cerne dramático justamente (e ironicamente) um personagem que luta para fingir para todo o mundo que não liga para essas coisas.
   Ao chegarmos na apresentação do iPod, em 2001, e por conseqüência, ao trecho final do filme, a grande atuação de Fassbender (e a bem da verdade de todo o ótimo elenco), assim como a exemplar condução de Boyle, já nos deixou perplexos diante desse personagem que nos leva aos extremos da empatia e da injúria, mas que ainda assim nos flagramos torcendo para que ele perceba as coisas importantes que estão passando por sua frente.
   Antes que seja tarde demais.

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