Ashitaka, o jovem guerreiro que protagoniza
este sensacional filme de Hayao Miyazaki aparece, pela primeira vez, numa cena
tensa, onde protege sua aldeia de uma espécie de deus-javali ensandecido, cujo
tormento, ao que tudo indica, foi provocado pela ferida de uma batalha
transcorrida em algum lugar muito distante.
No processo, Ashitaka sacrifica-se, fazendo com
que seu braço seja infectado por um terrível mal que, se ele não tratar em
terras remotas (as mesmas de onde o deus-javali veio), o levará, em breve, à
morte.
Sob a orientação dos anciões de sua aldeia (que
afirmam a importância dele ir para tal lugar com os olhos “desanuviados de todo
o ódio”), ele parte, e sua trajetória o leva a uma floresta onde uma sociedade
de manufatura, erguida à duras penas no ambiente selvagem, luta arduamente
contra os espíritos defensores das matas, representados principalmente por San,
uma jovem humana (a princesa Mononoke do título) adotada por lobos míticos e
gigantescos.
Todos os lados estão certos em suas convicções,
e errados no juízo que fazem da inépcia de seus próprios inimigos.
Apenas Ashitaka parece enxergar que esse
conflito de interesses está levando à uma escalada de violência que terminará
prejudicial a todos.
Neste vigoroso filme de ação, Miyazaki trabalha
uma série de códigos específicos a fim de entregar seu mais pungente trabalho,
no que toca ao requinte da técnica cinematográfica.
Tão minuciosa é sua obra, que ela requer várias
revisões para que todos os tópicos e detalhes por ele observados sejam
absorvidos por inteiro.
Miyazaki discute aqui a natureza da guerra, os
antagonismos entre indústria e ecologia, os papéis na sociedade e na própria
concepção de hierarquia, e a caótica política humana do estrategismo. Tudo isso
se descuidar de uma insuspeita habilidade narrativa.
No final, “Princesa Mononoke” versa mesmo sobre
os difíceis mecanismos da manutenção da paz, com seus personagens habitando, de
modo geral, uma área cinza, indefinida entre o bem e o mal. É um salto de
amadurecimento e tanto para um realizador de obras tão lúdicas como “Meu Amigo
Totoro” ou o posterior “Ponyo-Uma Amizade Que Veio do Mar”.
Nenhum comentário:
Postar um comentário