quinta-feira, 14 de julho de 2016

Princesa Mononoke

Ashitaka, o jovem guerreiro que protagoniza este sensacional filme de Hayao Miyazaki aparece, pela primeira vez, numa cena tensa, onde protege sua aldeia de uma espécie de deus-javali ensandecido, cujo tormento, ao que tudo indica, foi provocado pela ferida de uma batalha transcorrida em algum lugar muito distante.
No processo, Ashitaka sacrifica-se, fazendo com que seu braço seja infectado por um terrível mal que, se ele não tratar em terras remotas (as mesmas de onde o deus-javali veio), o levará, em breve, à morte.
Sob a orientação dos anciões de sua aldeia (que afirmam a importância dele ir para tal lugar com os olhos “desanuviados de todo o ódio”), ele parte, e sua trajetória o leva a uma floresta onde uma sociedade de manufatura, erguida à duras penas no ambiente selvagem, luta arduamente contra os espíritos defensores das matas, representados principalmente por San, uma jovem humana (a princesa Mononoke do título) adotada por lobos míticos e gigantescos.
Todos os lados estão certos em suas convicções, e errados no juízo que fazem da inépcia de seus próprios inimigos.
Apenas Ashitaka parece enxergar que esse conflito de interesses está levando à uma escalada de violência que terminará prejudicial a todos.
Neste vigoroso filme de ação, Miyazaki trabalha uma série de códigos específicos a fim de entregar seu mais pungente trabalho, no que toca ao requinte da técnica cinematográfica.
Tão minuciosa é sua obra, que ela requer várias revisões para que todos os tópicos e detalhes por ele observados sejam absorvidos por inteiro.
Miyazaki discute aqui a natureza da guerra, os antagonismos entre indústria e ecologia, os papéis na sociedade e na própria concepção de hierarquia, e a caótica política humana do estrategismo. Tudo isso se descuidar de uma insuspeita habilidade narrativa.

No final, “Princesa Mononoke” versa mesmo sobre os difíceis mecanismos da manutenção da paz, com seus personagens habitando, de modo geral, uma área cinza, indefinida entre o bem e o mal. É um salto de amadurecimento e tanto para um realizador de obras tão lúdicas como “Meu Amigo Totoro” ou o posterior “Ponyo-Uma Amizade Que Veio do Mar”.

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