terça-feira, 12 de julho de 2016

Yojimbo - O Guarda-Costas

O mestre Akira Kurosawa criava obras que representam, hoje, pontos de ressonância inesperadamente relevantes na cultura pop que tantos consomem, sem nem sequer terem ouvido falar do grande diretor japonês.
“Yojimbo” é um desses casos.
Num tom que inspirou incontáveis faroestes realizados depois dele (e a refilmagem explícita, “Por Um Punhado de Dólares”, de Sergio Leone, é somente um deles), acompanhamos os percalços do samurai errante Sanjuro (Toshiro Mifune, espetacular), forasteiro numa cidadezinha desolada da época feudal, onde os moradores se encorujam nas casas tentando escapar da má sorte de serem pegos no fogo cruzado de uma guerra entre duas gangues.
Movido por um senso inato de justiça, Sanjuro vale-se do interesse que sua exuberante figura de guerreiro desperta nos clãs rivais para oscilar entre um e outro, acentuando suas desavenças, instigando-os a se matar entre si.
As coisas só começam a complicar para Sanjuro quando chegada na cidade o herdeiro de um dos líderes de gangue, rapaz estrategista, ardiloso e traiçoeiro, e quando as boas intenções de Sanjuro ameaçam evidenciar para os vilões seus planos de limpar a cidade.
Desde seu início, com um sensacional e inspirado take onde flagra um vira-lata andando casualmente com uma mão humana entre seus dentes, até as cenas finais, onde a câmera acompanha sem cortes a sucessão de combates de tirar o fôlego de Sanjuro contra os bandidos (Mifune sabia manusear a espada com habilidade na vida real), “Yojimbo” é uma demonstração de brilhantismo que tantas vezes Kurosawa discorreu na carreira. Sua influência no cinema comercial vai desde as tomadas panorâmicas escolhidas por Kurosawa, até o registro detalhista e cênico dos elementos que emolduram a ação, passando pela escolha criteriosa da trilha sonora, e pela própria construção da história.

Um filme plenamente merecedor da alcunha de “aula de cinema”.

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