O mestre Akira Kurosawa criava obras que
representam, hoje, pontos de ressonância inesperadamente relevantes na cultura
pop que tantos consomem, sem nem sequer terem ouvido falar do grande diretor
japonês.
“Yojimbo” é um desses casos.
Num tom que inspirou incontáveis faroestes
realizados depois dele (e a refilmagem explícita, “Por Um Punhado de Dólares”,
de Sergio Leone, é somente um deles), acompanhamos os percalços do samurai
errante Sanjuro (Toshiro Mifune, espetacular), forasteiro numa cidadezinha
desolada da época feudal, onde os moradores se encorujam nas casas tentando
escapar da má sorte de serem pegos no fogo cruzado de uma guerra entre duas
gangues.
Movido por um senso inato de justiça, Sanjuro
vale-se do interesse que sua exuberante figura de guerreiro desperta nos clãs
rivais para oscilar entre um e outro, acentuando suas desavenças, instigando-os
a se matar entre si.
As coisas só começam a complicar para Sanjuro
quando chegada na cidade o herdeiro de um dos líderes de gangue, rapaz
estrategista, ardiloso e traiçoeiro, e quando as boas intenções de Sanjuro
ameaçam evidenciar para os vilões seus planos de limpar a cidade.
Desde seu início, com um sensacional e
inspirado take onde flagra um vira-lata andando casualmente com uma mão humana
entre seus dentes, até as cenas finais, onde a câmera acompanha sem cortes a
sucessão de combates de tirar o fôlego de Sanjuro contra os bandidos (Mifune
sabia manusear a espada com habilidade na vida real), “Yojimbo” é uma
demonstração de brilhantismo que tantas vezes Kurosawa discorreu na carreira.
Sua influência no cinema comercial vai desde as tomadas panorâmicas escolhidas
por Kurosawa, até o registro detalhista e cênico dos elementos que emolduram a
ação, passando pela escolha criteriosa da trilha sonora, e pela própria
construção da história.
Um filme plenamente merecedor da alcunha de
“aula de cinema”.
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